EUA ameaçam abandonar conversações nucleares com o Irã

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ameaçou se retirar das negociações nucleares com o Irã, depois de outro atraso que desta vez pode complicar as negociações para implementar algum acordo. Os iranianos reagiram imediatamente, acusando os EUA e seus aliados europeus de causar o impasse.

John Kerry e Mohammad Javad Zarif

A ameaça foi feita na quinta-feira (9) à noite, quando Kerry sinalizou que os diplomatas reunidos em Viena não chegariam a um pacto nas próximas horas.

Segundo alegou Kerry e outros diplomatas ocidentais, o Irã ainda não tinha tomado a difícil "decisão política" de reverter seu programa nuclear. No entanto, um alto funcionário iraniano disse que eram os americanos e seus parceiros que estavam retrocedendo em vários compromissos-chave relacionados ao nível permitido de atividades nucleares do Irã, bem como ao término definitivo das sanções econômicas contra o país.

"Isto não está em aberto", disse Kerry aos repórteres em frente ao palácio que hospeda as negociações em Viena. "Nós não podemos esperar para sempre a decisão ser tomada. Se as decisões difíceis não são feitas, estamos absolutamente preparados para colocar um fim a este processo", ameaçou o chefe da diplomacia norte-americana.

O novo atraso para um acordo abrangente com o Irã é significativo. A atual rodada de negociações entre Teerã e o sexteto de mediadores internacionais – grupo também conhecido como P5+1, composto por EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha – já foi prorrogada duas vezes desde que começou em 27 de junho.

O Irã exige a flexibilização imediata das sanções econômicas para oferecer concessões nucleares, e quanto mais tempo as potências ocidentais demoram para cumprir suas promessas, mais tempo elas terão que esperar para que os iranianos desacelerem seu programa nuclear.

Sob a lei dos EUA, as sete nações que participam das negociações em Viena teriam que concluir o acordo até a manhã desta sexta-feira (10) para evitar um período de 60 dias de revisão por parte do Congresso norte-americano, durante o qual o presidente Barack Obama não pode reduzir as sanções contra o Irã. Se o prazo tivesse sido cumprido e um acordo tivesse sido alcançado, a revisão do Congresso levaria "apenas" 30 dias.

O novo adiamento, portanto, pode significar que as partes terão que empurrar as discussões até setembro. "Nós não vamos nos apressar e não vamos ser apressados", tergiversou Kerry.

"Nós não estaríamos aqui continuando a negociar apenas por negociar. Estamos aqui porque acreditamos que estamos fazendo progressos reais em direção a um acordo abrangente", acrescentou, ressalvando em seguida que os EUA não irão “se sentar à mesa de negociações para sempre".

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, que manteve um encontro a portas fechadas com Kerry na quinta-feira à noite, postou uma mensagem no Twitter dizendo que as partes estavam "trabalhando duro, mas não apressadamente" para realizar o acordo.

Uma autoridade iraniana, falando em condição de anonimato a vários jornalistas estrangeiros, disse que a relutância do Ocidente em aliviar as sanções econômicas é o maior obstáculo para o sucesso das negociações. Segundo a fonte, os EUA estão "obcecados" com as sanções.

Em uma cúpula econômica na Rússia, o presidente do Irã, Hassan Rohani, disse que sua nação estava se preparando para uma era "pós-sanções", sugerindo a iminência de um acordo para frear o programa nuclear iraniano em troca da suspensão das sanções econômicas ocidentais.

Kerry falou por telefone com o chanceler russo, Serguei Lavrov, que também estava na Rússia. Lavrov expressou otimismo e disse estar preparado para voltar a Viena.

"Nossos parceiros ocidentais, que não apoiaram um projeto de resolução inteiramente aceitável para as outras partes, estão em falta, não o Irã", twittou o chefe da diplomacia russa.

Com informações da Agência Sputnik