Governo brasileiro continuará emissão de visto para haitianos 

O governo federal pretende continuar com a emissão de visto humanitário para os haitianos. A informação foi divulgada pelo secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça, Beto Vasconcelos, que participou nesta quinta-feira (16) de audiência pública promovida pelas comissões de Relações Exteriores e de Defesa Nacional; e de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

Governo brasileiro continuará emissão de visto para haitianos - Agência Câmara

O visto humanitário foi criado em 2012 e é expedido pela embaixada brasileira no Haiti, com o objetivo de evitar que os haitianos busquem rotas de imigração operadas por organizações criminosas.

“O nosso grande desafio, hoje, é transformar uma rota muito indesejada – de submissão de imigrantes a ‘coiotes’ e a organizações criminosas, e, portanto, submetendo-os a possíveis violações de direitos humanos – a uma rota que seja segura, que garanta tratamento humanitário, acolhimento e inserção social, laboral e cultural desses imigrantes ao Brasil”, afirmou Beto Vasconcelos.

Os expositores da audiência concordaram que um dos principais fatores que motivaram a crescente onda de imigração Haiti-Brasil está relacionado aos últimos desastres naturais que assolaram a população haitiana, especialmente o terremoto de 2010, que matou cerca de 300 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados.

História emocionante

A história da imigrante haitiana Nadine Talleis, que é deficiente visual, emocionou os participantes da audiência pública. Ela contou que a situação do país, após o terremoto, ficou mais crítica. Segundo ela, a família perdeu tudo e a única saída era migrar para outro país. Ela viveu três anos na República Dominicana antes de vir para o Brasil.

Nadine, que ainda está aguardando o visto humanitário, mora em Mauá (SP) e está no quarto semestre de direito. Ela sonha em prestar concurso para diplomata e se especializar em imigração.

Rota da imigração

O ouvidor da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Antônio Torres, explicou o passo a passo do fluxo migratório escolhido pelos haitianos. O Acre é um dos principais destinos dos haitianos.

“Muitos saem do Haiti, vão para a República Dominicana e, de lá, pegam um voo até a Guatemala – apenas como uma escala. Em seguida, vão para o Equador. De lá, atravessam para o Peru. Dentro do Peru, atravessam e chegam até Assis Brasil (AC), para em seguida pegar um ônibus ou táxi para Epitaciolândia (AC), onde tem o posto da Polícia Federal (PF) e é feito o pedido do visto”, informou Torres.

O abrigo para imigrante na capital do Acre, Rio Branco, é onde fica a maioria dos haitianos enquanto a autorização do visto não é emitida pela PF. De posse do visto, os imigrantes seguem para os demais estados brasileiros, principalmente Rio Grande do Sul e São Paulo.

De acordo com Torres, o número crescente de imigrantes que chegam ao Acre é assustador. “Em 2010, chegaram 37. Em 2011, chegaram 1.175. Até aí, sustentável. Já no outro ano, 2.225. E o salto maior começa em 2013: 11.524 imigrantes. Em 2014, 16.206. Isso é número do ano, não é somando com os anteriores. E, em 2015, até junho, já chegaram mais de 9 mil”, afirmou.