Relação entre Cuba e EUA abre nova etapa de aproximação

A restauração das relações diplomáticas cubano-estadunidenses e a abertura de embaixadas marcam o início de um novo processo de diálogo para avançar para vínculos normais, um caminho complexo que as partes manifestam vontade de percorrer.

Cuba e EUA

Após uma histórica jornada, as expectativas centram-se em como Havana e Washington empreenderão a seguinte fase, que permita superar mais de meio século de desencontros.

Nesta segunda-feira (20), foram retomados os vínculos, rompidos pela Casa Branca em 1961, e abertas as sedes diplomáticas, que elevaram seu status de seções de interesses sob a representação suíça para as embaixadas.

Não menos importante foi a reunião entre o ministro cubano de Relações Exteriores, Bruno Rodríguez, e o secretário norte-americano de Estado, John Kerry, na primeira visita de um chanceler da ilha ao Departamento de Estado desde 1958.

Os altos funcionários abordaram questões de segurança, meio ambiente, situação internacional, direitos humanos e tráfico de pessoas, entre outras, um claro sinal da disposição para colocar sobre a mesa preocupações e identificar áreas de cooperação.

De acordo com Rodríguez, os recentes acontecimentos no cenário bilateral referendam a decisão de Cuba e Estados Unidos em progredir em seus nexos, apesar das diferenças existentes.

“Podemos ampliar o diálogo e trabalhar na cooperação bilateral, vemos condições para isso”, afirmou em uma coletiva de imprensa posterior à histórica reunião, o segundo encontro entre ambos após o realizado em abril, no Panamá, da 7ª Cúpula das Américas.

O chanceler cubano reiterou os aspectos que seu país considera chave para a normalização, como o fim do bloqueio econômico, comercial e financeiro, a devolução do território ocupado de maneira ilegal pela Base Naval de Guantánamo e o respeito à soberania da maior das Antilhas.

“Não se trata de condições para o diálogo, mas de realizá-lo com respeito sobre os assuntos de interesse”, precisou.

Kerry também concordou em que a restauração de relações marca o início de uma nova época, que busque deixar atrás décadas de hostilidade e de uma política contra a ilha que não tem funcionado em seu empenho de isolá-la e submetê-la, fracasso admitido por Washington.

“Estamos decididos a viver como bons vizinhos sobre a base do respeito mútuo, e queremos que todos os cidadãos das duas nações olhem para o futuro com esperança”, sublinhou.

Kerry recordou as diferenças existentes, mas também a vontade de trabalhar de maneira construtiva, "para o qual Estados Unidos fará sua parte".

Respaldo nos dois países

Em conversa com representantes da sociedade cubana e estadunidense que participaram da cerimônia para oficializar os vínculos diplomáticos, a Prensa Latina constatou o respaldo à aproximação anunciada pelos presidentes Raul Castro e Barack Obama, no dia 17 de dezembro passado.

Políticos, especialistas, empresários e ativistas norte-americanos chamaram a não desperdiçar o favorável momento gerado, em vias de estimular a normalização e impedir o retrocesso.

“Há muitas coisas sobre o que falar agora entre ambos os povos para avançar juntos para tempos melhores, esperar 54 anos foi demasiado”, advertiu o ator de Hollywood e ativista Danny Glover.

Por sua vez, o analista e pesquisador Philip Peters defendeu o impulso de laços integrais entre as duas nações, "uma maneira efetiva de evitar que regressemos ao passado".

Do lado cubano, personalidades como o historiador de Havana, Eusebio Leal, o cantor Silvio Rodríguez, o artista plástico Kcho, os ex-diplomatas Ricardo Alarcón e Ramón Sánchez Parodi, a líder parlamentar Ana María Mari Machado e o deputado Ramón Pez Ferro celebraram os passos dados.

Para Leal, existe a nível dos dois governos vontade de tratar questões mais complexas e profundas no cenário bilateral, face a sua normalização.

Nesse sentido, Alarcón defendeu a importância de tratar os temas em igualdade de condições, postura necessária para lidar com o longo expediente que resta por resolver entre ambos governos.