A poesia de Assis de Mello
Assis de Mello é o nome literário de Francisco de Assis Ganeo de Mello. O poeta já participou de diversas coletâneas de poesia e tem poemas publicados em vários jornais e revistas em papel, como Suplemento Literário de Minas Gerais e Celuzlose, ou na internet, como Cronópios, Eutomia, Gérmina, Jornal de Poesia, Mallarmargens, Zunái.
Publicado 23/07/2015 15:08 | Editado 13/12/2019 03:30

Além de poeta, Assis é zoólogo, docente no Instituto de Biociências da Unesp- Campus de Botucatu, desenvolve pesquisa em sistemática e evolução de insetos.
É autor do livro de poemas Na Borda da Ilha, Lumme Editor, 2010. Atreve-se também na fotografia e na pintura. Mantém o blog Coisas do Chico (http://coisasdochico.blogspot.com).
Os poemas apresentados por Letras Vermelhas nesta semana fazem parte do Livro dos Epílogos, que será publicado em agosto deste ano pela editora Patuá.
Leia na íntegra:
III.
Os olhos saíram pelo cais
procurando um barco
ao luar
tocando guitarra
e encontraram sonhando
um ninho
de búzios
– Cruzeiro Seixas –
pois
lento
surgiu o trilobito
no emaranhado do mar
Lenta
a resignação fluorescente
o desejo de viver
naquela concha de cristal
silencioso
& cultivar algas vermelhas
de tempos pretéritos
O homem
já havia corroído tudo
que poderia montar felícia:
corroeu a actínia / a anfisbena de sal
o tecido das ilusões
o hidrozoário verde
até mesmo roeu
o manto iriado
de onde enxameava o vento
Só o eremitério então o seduzia
naquela furna translúcida
através da qual se podia ver
as criaturas abissais de grandes bocas
emissoras de luz
Havia ainda na espira algo de sol & o tempo era plato
XXIII.
&
torturou-o
sem piedade
rodando a língua no frênulo
a glande a explodir
o cano
como um braço arruaceiro a girar um mangual
de doze pontas enquanto o olhar de novilha
se perdia na gana
da crueldade indomada
Seivados a boca / lábios / borboleta
ladrilhos / estátua
abajur
os sonidos da fricção
lubrificada
o estrondo
do jorro em repuxo
– glutinoso
como os braços
de uma hidra
, o homicídio consumado
Os cabelos / a face / o colo
lambuzados de elemento
& os homúnculos do dia
a caminhar
pela rua
XXIII.
&
torturou-o
sem piedade
rodando a língua no frênulo
a glande a explodir
o cano
como um braço arruaceiro a girar um mangual
de doze pontas enquanto o olhar de novilha
se perdia na gana
da crueldade indomada
Seivados a boca / lábios / borboleta
ladrilhos / estátua
abajur
os sonidos da fricção
lubrificada
o estrondo
do jorro em repuxo
– glutinoso
como os braços
de uma hidra
, o homicídio consumado
Os cabelos / a face / o colo
lambuzados de elemento
& os homúnculos do dia
a caminhar
pela rua
XXXIX.
foi muito além das palavras
, deveras
Mas apenas três fotos
se salvaram:
a do pássaro de asas caiadas amalgamado à pedra
a varar as estações do labirinto
a do miriápode lunar
encantado a seu jeito de ambulante imberbe
enrodilhado na fuligem que restou da lavoura
da mãe do agrimensor que assassinou o próprio filho
a da mais periférica das galáxias de H
no momento em que as iguanas do ar
esgarçavam suas sombras
Examinei-as numa tarde sem mar
mas estive atento Havia sim
outro olho rodeado de pápulas
que a tudo observava
XLIII.
&
então
corria / parava
vibrava a cabeça
o lagarto
língua
gula
artelhos
o olhar
concatenado
com as pedras
ao entardecer sumia
No fusco-fusco
aspergia-se o rei
sobre as folhagens do jardim suspenso
então / lentamente
o barro foi se sobrepondo
às chegadas e partidas
o barro
& sua prerrogativa
de fecundidade & morte