Aparecidos Políticos: Coletivo usa arte em defesa de memória e verdade

Na semana em que o Coletivo Aparecidos Políticos divulgou uma de suas principais ações, o Vermelho-CE entrevistou a advogada Stella Maris, membro do grupo ativista. Em entrevista, ela apresentou algumas ações do grupo, falou sobre a atuação e novos desafios.

O projeto “Conexões Cartográficas da Memória” é fruto de cinco anos de pesquisas do coletivo. Lançado na última terça-feira (28/07), em Fortaleza, o trabalho apresenta um mapeamento sobre locais que ainda se referem à Ditadura Militar na capital cearense. São prédios, ruas e avenidas, praças e até escolas e creches que ainda homenageiam colaboradores de um dos períodos mais duros da história do país. O coletivo aponta mais de 35 espaços e equipamentos públicos que ainda se remetem a torturadores e apoiadores. Locais como a Avenida Castelo Branco (Leste-Oeste) e as escolas Presidente Médici e Murilo Borges fazem parte deste mapeamento.

Mas a atuação deste grupo não é de agora. Segundo Stella Maris, a iniciativa de criar o coletivo surgiu quando alguns membros do grupo presenciaram, em outubro de 2009, a chegada dos restos mortais do desaparecido político cearense Bergson Gurjão Farias, após 37 anos do desaparecimento dele pela Ditadura Militar. Desde então, o grupo realiza várias atividades, sempre com o intuito de promover a luta por “memória, verdade e justiça”. São intervenções urbanas, como os rebatismos populares, que dão novos nomes a locais que ainda se referem a apoiadores da Ditadura.

O principal objetivo do Coletivo Aparecidos Políticos é reconstruir a memória política de Fortaleza. “Nossa atuação está focada no trabalho alinhando a discussão entre arte e política voltada à pauta da memória, verdade e justiça”, reforça. Para ela, a conjuntura no país, em especial depois da divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), favorece a atuação do grupo. “Nele há 29 recomendações, dentre elas a defesa da memória e da verdade como rebatismos”, exemplifica.

O relatório da CNV foi apresentado no final de 2014, está dividido em três volumes e contém mais de 4 mil páginas. Dentre as recomendações apresentadas, a retificação da causa da morte no documento de óbito dos mortos por graves violações de direitos humanos, o aperfeiçoamento da legislação brasileira com relação aos crimes contra humanidade e desaparecimento forçado, além de medidas para a preservação da memória.

Composto por cinco pessoas (além de Stela Maris, Sabrina Araújo, Sara Nina, Marcos Venicius e Alexandre Mourão), o coletivo atua também com colaboradores e parceiros. “Temos como proposta trabalhar numa relação estreita entre a arte e a política. Esperamos deixar como legado a real implementação das recomendações da CNV, incutir a cultura de preservação da memória e ainda impulsionar uma política no Ceará, para que o Estado assuma esse compromisso de reconstrução da verdade, a partir do cumprimento dessas recomendações”, ratifica.

Além da recém lançada cartografia, com os locais que ainda fazem referência à Ditadura, a ativista também destaca outra ação importante do coletivo. “Lançamos o Minimanual da Arte Guerrilha Urbana, analogia do Minimanual do Guerrilheiro Urbano, de Carlos Marighela, liderança destacada da ANL, considerado por muitos naquela época o inimigo número 1 da Ditadura. O objetivo é subsidiar movimentos sociais para trabalhar pautas a partir dessa metodologia de arte e política, aprofundar as técnicas artísticas que o Coletivo utiliza, como lambe-lambe, grafitti e rádios livres”, acrescenta.

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Além do Ceará, o Coletivo Aparecidos Políticos também já fez intervenções em Teresina (PI), Marabá (PA), Tefé (AM), João Pessoa (PB) e Brasília (DF).

A sede do coletivo fica no “Aparelho”, localizado na rua Instituto do Ceará, 164 – Fortaleza-CE).

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De Fortaleza,
Carolina Campos