Cordel Umbilical: Carta de Idalzira para Joan

Joan Edesson cadê você
Aquele filho leal
Que não esquecia o Cedro
Este seu torrão natal
Que não escreve uma linha
Pra saber notícia minha
Se estou bem, se estou mal

Isto é muito natural
Acontece diariamente
Quando vão passando os anos
Que a pessoa está ausente
Deixa até de escrever
E não quer mesmo saber
De pai, de mãe nem parente

O amor de mãe é excelente
Não esqueça este tema
Escreva ao menos uma carta
Ou dê um telefonema
Não precisa fazer fita
Basta uma rima bonita
Em um pequeno poema

Eu não vou fazer esquema
Tenho um amor maternal
Espero que você sinta
Também amor filial
Não lhe proíbo de amar
Mas não queira me trocar
Pela moça de Sobral

Quero sempre ser igual
Sou feita do mesmo pó
Porém mãe é uma só
E não gosta de rival
É lindo o amor maternal
Disto eu tenho a certeza
Por isto guardo a tristeza
Num coração magoado
Não me mandou um recado
Quando esteve em Fortaleza

Aí vejo com clareza
Que você está dividido
Se tornando esquecido
De mãe que é uma vela acesa
Tendo a alma sempre presa
Por uma chama ardente
Pensando no filho ausente
Que mora do outro lado
Nem sequer manda um recado
Para me deixar contente

Me escreva constantemente
Veja se não me engana
Pois neste fim de semana
Fiquei muito descontente
Pensei logo de repente
Alguma coisa mudou
Ele não telefonou
Me aumentou o cuidado
Porque nem mesmo um recado
Você sequer não mandou

Ligue que eu pago tudo
Se fui pobre não me lembro
Pode ligar em agosto
Pode ligar em setembro
Pode ligar em outubro
Pode ligar em novembro

Pode ligar em dezembro
Também no mês de janeiro
Repetindo novamente
Lá no mês de fevereiro
Março, abril, maio e junho
Julho faz o ano inteiro

Estou lhe dando o roteiro
Só não sei se você gosta
Tenho rima à flor da pele
Quero obter a resposta
Sei que você é poeta
Faço até uma aposta

Você rima até “dis costa”
E ninguém se admira
Eu rimo estando contente
Não tenho ódio nem ira
Receba de coração
Um abraço e um beijão
De tua mãe Idalzira

Não lhe escrevi mentira
Tudo fiz com alegria
Estou doente das pernas
Mas a mente está sadia
A idade não me proíbe
De escrever poesia

Na última estrofe fiz
O meu nome abreviado
Com um I um B e um O
O nome fica formado
De outra forma não precisa
O nome da poetisa
É conhecido e lembrado

Cedro, 23 de julho de 1991