Cordel Umbilical: Carta de Joan para Idalzira
Idalzira o meu bom dia
Receba com atenção
Pois mando com educação
Não me falta cortesia
Não uso minha poesia
Para dizer desaforo
Não perco nunca o decoro
Com aqueles que tenho afeto
Não acho muito correto
Alguém me tirar o couro
Publicado 04/08/2015 10:35 | Editado 04/03/2020 16:25
Somente porque não pude
Lhe dar um telefonema
Criou o maior cinema
Com a sua atitude
Se recebo mais amiúde
Carta desta natureza
Decerto que com presteza
Ficarei muito chocado
Pois já fiquei magoado
Nesta última com certeza
Sempre lhe tive a impressão
De uma pessoa justa
Inteligente e augusta
De muito bom coração
Porém esta opinião
Ficou um pouco mudada
Pois foi tão desaforada
Sua última poesia
Tão cheia de ironia
Parecia encomendada
Cometeu grande maldade
Me chamando de ingrato
Eu não esqueço o trato
Que fiz com nossa cidade
Nem é menor a saudade
Que sinto pela senhora
E sei bem que não ignora
Que a moça de Sobral
Desde o último natal
Comigo não mais namora
O negócio é que a vida
É cheia de correria
Entra dia e sai dia
E ela é sempre repetida
É acusação descabida
Que a senhora me fez
Pois disse mais de uma vez
Que eu lhe abandonei
Esquecendo que eu andei
Aí não faz nem um mês
E eu que ainda lhe julgava
Pessoa de fé e crença
Me fez uma grande ofensa
Dizendo que eu não pagava
Os telefonemas que dava
Ficou rica de repente
Esnoba a própria semente
Fazendo um feio papel
E de forma tão cruel
Trata um filho ausente
Por aqui vou encerrando
Antes que fique zangado
Não perco o rebolado
Com quem vem me espinafrando
Pode ir comemorando
Pois ganhou a sua aposta
Eu rimo até “dis costa”
Sem perder a esperança
Não renego a minha herança
Eis aí minha resposta
Se fiquei com algum desgosto
Isto é coisa passageira
O poema é brincadeira
E por certo de bom gosto
Antes que no mês de agosto
Chegue a segunda manhã
Fique certa que este seu fã
Lhe fará uma visita
O resto tudo é fita
Quem lhe garante é Joan
Acaraú, 30 de julho de 1991