Lula na Marcha das Margaridas: "Ninguém ameaçará a democracia"

O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na abertura da 5ª Marcha das Margaridas, na noite desta terça-feira (11), foi muito aclamado pelas milhares de trabalhadoras do campo e das cidades que lotaram o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, no Distrito Federal. Organizado pela Contag, o ato contou com a presença de lideranças sociais e autoridades políticas. "Foi a dignidade de vocês que construiu esse país", elogiou Lula, no início de sua fala.

- Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula

Lula exaltou a eleição da presidenta e elogiou a firmeza feminina: "ousamos eleger uma mulher que aos 20 anos foi presa e torturada. E hoje, com a coragem das mulheres, ninguém ameaçará a democracia", e completou: "se tem uma coisa que o povo brasileiro aprendeu nos últimos anos, foi fazer a sua própria história".

"A presidenta Dilma deve estar agora orgulhosa de presidir um país que tem um povo da qualidade das margaridas que estão aqui hoje", disse o ex-presidente. "Hoje é um dia para celebrar a força das mulheres e do povo brasileiro", continuou.

O ex-presidente criticou à oposição ainda inconformada com a derrota nas urnas. "Algumas pessoas não perceberam que a eleição acabou dia 26 de outubro e que a Dilma é presidenta deste país", questionou Lula. Ele relembrou que, diante das dificuldades atuais, "algumas pessoas querem jogar a responsabilidade na presidenta Dilma", e lembrou que "esses que agora se apresentam como solução, entregaram o país quebrado e devendo dinheiro para o FMI".

Lula atribuiu à crise internacional a responsabilidade pela atual dificuldade econômica enfrentada pelo Brasil e pediu tempo para que a presidenta Dilma Rousseff possa superar os problemas: “Não julguem o governo por seis meses de mandato”; “A crise não começou no Brasil. Ela começou nos Estados Unidos e na Europa.

Reconhecendo que o país atravessa um momento difícil, Lula lembrou que, os que hoje pedem o impeachment da presidenta Dilma, são os mesmos que, em 2005, falavam em retirá-lo do poder. Porém, tinham consciência de que, para isto, teriam de enfrentar o povo. “Com Dilma não será diferente. Tenho certeza que cada mulher que está aqui, que cada brasileiro, com sua coragem, vai defender esse governo. Ninguém vai barrar o processo democrático”, disse.

Comparações

Lula fez um comparativo econômico e social do Brasil nas últimas décadas. “Vocês se lembram que este país já foi muito dividido. Entre os que comiam e os que tinham fome. Os analfabetos e os que frequentavam as escolas e universidades. Sem terra e com terra. Os que iam para o shopping e outros que ficavam só a olhar”, ressaltou Lula apontando as desigualdades sociais sustentada pelos tucanos.

Ainda chamou a atenção para o processo democrático de reivindicação feito pelas margaridas, citando como um exemplo de persistência a ser seguido. “Vocês aprenderam depois de muitas Marchas que é possível mudar a história desse país. Quanto mais a gente quer, a gente conquista. Democracia não é um ato de silêncio, mas é o povo na rua reivindicando direitos”.

Lula foi exaltado ao afirmar que está organizando sua agenda para "voltar a viajar este país". "Eu quero ver se nossos adversários estão dispostos a andar por este país e discutir este país como ele precisa ser discutido", desafiou.

O ex-presidente criticou os setores que tentam impor retrocessos sociais, como a tentativa de redução da maioridade penal. “Como o Estado pode cobrar de uma pessoa para a qual esse mesmo Estado não deu a formação necessária?”, questionou.

Compromissos

Representando o governo federal, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, aproveitou para reafirmar dois compromissos com as margaridas. “O primeiro é a luta pela Reforma Agrária, onde temos como meta assentar até o final do governo Dilma todas as trabalhadoras e trabalhadores rurais que vivem debaixo da lona. O segundo é trabalhar por políticas que garantam vida digna e decente para as mulheres”, ressaltou.

A ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, aproveitou para enaltecer duas mulheres que não se envergaram diante da luta, Margarida Alves e Dilma Rousseff. “São Mulheres que não se calaram mesmo diante das pressões e desafios enfrentados por serem mulheres”, destacou. 

Ela reforçou ainda que "mulher nenhuma pode aceitar o ódio de gênero, o ódio de quem não suporta uma mulher governando este país". 

A secretária nacional da mulher trabalhadora da CTB, Ivana Pereira, chamou atenção para os direitos da mulher e para tentativas de golpe que se acentuam no atual cenário político partidário no Brasil e o "machismo que lamentavelmente ainda existe no Congresso Nacional". “Não permitiremos que o machista reacionário do Cunha na Câmara dos Deputados continue ditando as regras do país. Por isso, escuta Cunha: Seguiremos em Marcha até que nós margaridas de todos os cantos sejamos livres". 

Presença de Dilma 

A programação conta com concentração e Marcha pela Esplanada dos Ministérios, em Brasília, nesta manhã de quarta-feira (12). Às 15 horas, a presidenta Dilma Rousseff vai até o Estádio Nacional de Brasília, Mané Garrincha para acompanhar o ato de encerramento e receberá a pauta de reivindicação da 5ª edição da Marcha das Margaridas.