O perfil dos manifestantes capixabas do dia 16/08
A Universidade de Vila Velha (UVV) fez uma interessante pesquisa durante o protesto realizado na Praça do Papa, no dia 16 de agosto de 2015, na capital do Espírito Santo.
Claudio Machado*
Publicado 17/08/2015 22:58 | Editado 04/03/2020 16:42
A pesquisa foi realizada pelo curso de graduação em Marketing e pelo curso de mestrado em Sociologia Política da Universidade. Segundo seus organizadores, ela “ teve o objetivo de traçar o perfil socioeconômico dos manifestantes, as motivações para participação no ato e suas percepções acerca de temas políticos e sociais mais amplos e de problemas da atual conjuntura nacional. A realização deste survey se justifica pela importância em caracterizar o perfil e as percepções dos manifestantes capixabas. Até o momento, os protestos ocorridos no Espírito Santo, em contraste com outros similares organizados na Bahia, em Minas Gerais, em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, não foram escrutinados com este fim.”
Não há como afirmar que o perfil aferido por esta pesquisa no Espírito Santo se repete automaticamente nos outros estados, mas dá para apostar que deve haver uma grande semelhança, se considerarmos que os elementos motivadores que mobilizam estas manifestações são os mesmos em todos os lugares.
Parece que o instituto Data Folha fez um trabalho semelhante junto aos manifestantes de São Paulo, que apresenta algumas coincidências com os resultados daqui.
Vale a pena, então, destacar alguns dados extraídos após uma rápida leitura desse oportuno trabalho realizado pela Universidade de Vila Velha e organizado por Acácio Augusto Sebastião Júnior, Anselmo Hudson Siqueira Nascimento, Paulo Edgar da Rocha Resende, Riberti de Almeida Felisbino, Vitor Amorim de Angelo e apoiado pela Mercato Inteligência Competitiva.
Faixa etária: 48% dos participantes tinham mais de 40 anos e 31%, mais de 50;
Renda familiar: 25% declararam ter renda familiar entre R$ 4.000,00 e R$ 8.000,00, enquanto que 35% disseram ter renda acima dos R$ 8.000,00, ou seja, 60% dos presentes pertencem às classes A/B (o Data Folha encontrou que 40% dos manifestantes paulistas têm renda superior a R$ 3.900,00);
Grau de escolaridade: 75% são pós-graduados, fizeram ensino superior ou estão cursando (segundo a pesquisa feita em São Paulo, 76% dos manifestantes que foram à Avenida Paulista cursaram ensino superior);
A pesquisa da UVV procurou também identificar as preferências eleitorais dos manifestantes, nas eleições presidenciais de 2014.
As informações recolhidas deram conta de identificar que no primeiro turno 64% votaram em Aécio, 16% em Marina Silva e apenas 2% em Dilma;
Já no segundo turno, 82% preferiram Aécio e apenas 3% votaram em Dilma (Em São Paulo o Data Folha encontrou que 77% dos manifestantes votaram em Aécio no segundo turno, mostrando, como indicado anteriormente, semelhanças entre os perfis dos manifestantes capixabas e paulistas, o que pode levar à dedução que o mesmo deve ter ocorrido nos demais estados);
Um dado muito interessante identificado pela pesquisa da UVV é que apenas 43% dos manifestantes declararam que votariam novamente em Aécio Neves se a eleição fosse hoje.
Estas foram algumas informações diretas extraídas rapidamente da pesquisa feita pela Universidade de Vila Velha, mas que são suficientes para tirarmos algumas conclusões sem muito risco de errar.
Manifestações como a do último domingo (16/08), foram protagonizadas quase que exclusivamente por pessoas pertencentes às classes A/B, que nunca apoiaram os governos liderados pelo PT (se parte destas pessoas algum dia teve alguma simpatia por Lula ou Dilma, foi apenas um namorico passageiro).
Como postou em uma rede social um amigo e dos melhores pesquisadores e analista de pesquisas que conheço: “é possível estabelecer o (perfil) manifestante-típico ali presente. Antipetistas e anticomunistas históricos, reincidentes nestas manifestações, eleitores do Aécio, com alta escolaridade, alta renda, moradores de bairros nobres, brancos, liberais em assuntos econômicos, indefinidos em questões comportamentais e profundamente reacionários em questões sociais. Absolutamente contra bolsa família e cotas, contra o aborto mas a favor da pena de morte e do encarceramento de meninos, adeptos da democracia mas a favor do estado policial….”
Isso não quer dizer que o descontentamento com o governo Dilma se restringe a este segmento social. Mas diz sim, que milhões de brasileiros que apoiaram a reeleição da presidenta e veem apoiando os governos anteriores, desde a primeira eleição de Lula, embora atualmente insatisfeitos, ainda não foi desta vez que encontraram motivação para virem para as ruas protestar.
E vamos torcer muito para que o governo acerte mais do que erre, para que a economia volte a crescer, para que o desemprego pare de cair e para que se milhões de brasileiros e brasileiras se sentirem motivados a virem para as ruas, que venham em defesa de mais direitos, mais democracia e mais justiça social.
*Claudio Machado é Secretário Estadual de Comunicação do PCdoB, vice-presidente da Casa da America Latina "Liberdade e Solidariedade" e da coordenação estadual do Barão de Itararé