Líria Porto, a poeta das pequenas coisas
Letras Vermelhas desta semana traz a poesia simples, porém forte e cheia de signos e símbolos, de Líria Porto. Além de poeta é professora, tem livros publicados no Brasil, entre eles Asa de Passarinho (infantil) e Carimbo (juvenil), e em Portugal: Borboleta desfolhada e De lua.
Publicado 21/08/2015 18:08 | Editado 13/12/2019 03:30

Líria publica seus pequenos grandes poemas no blog Tanto Mar, e tem também obras publicadas nos sites Germina Literatura, Escritoras suicidas, Blocos online, Mallamargens, entre outros.
Leia na íntegra os poemas de Líria Porto:
pitbulls
nem havia cercas
depois fincaram estacas
esticaram arames
levantaram muretas
muros altos
puseram cacos de vidro
fios elétricos
e por último
uns rolos de aço
pontiagudo
:
ninguém mais
dá bom-dia
da comida
adão e eva – inocentes
aceitaram da serpente
a maçã que era de deus
(e assim nasceu caim)
que fome filha da puta
gostaram tanto da fruta
mais saborosa que mel
(e assim nasceu abel)
medula
rio sobre a ponte
rio sobe a ponte
rio sob a ponte
rio só
a ponte – um ponto
sem nós
pálpebras
de manhã abro a janela
e deixo o sol penetrar
no corpo da casa
à noite fecho-a de novo
(estrelas ficam lá fora)
eu durmo dentro
do ovo
na lua cheia
não tenho
regras
derrama
de dentro pra fora – de fora pra dentro
atravessa a fresta pula a janela
passa debaixo da porta
:
a luz não cabe onde mora
elos
a palavra é ponte
entre mim e o mundo
para atravessá-la
posso demorar
ela é sobre o mar
margaridas
singelas sem perfume
embelezam campos praças
ruas e avenidas
:
necessitam condições mínimas
florescer é um ato heroico
primeira classe
a escrita – trem bonito
cada palavra um vagão
um carrilhão de sentidos