Violência policial nos EUA e no Brasil, diferenças e paralelismos

Nós estamos acostumados à “violência policial no Brasil”. Tanto, que o Google já registra 773.000 resultados para esta expressão. A expressão “brutalidade policial no Brasil” tem 542.000 resultados. A expressão “police violence in US” tem estonteantes 109.000.000 resultados. A expressão “police brutality in US” tem 15.300.000 resultados.

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

Só nos últimos dias vi e compartilhei no Facebook as seguintes notícias sobre violência policial na gringolândia:

Várias prisões em comício em Oakland contra a brutalidade policial

New Low: Sheriff’s Office Claims Infant at Fault for SWAT Team Blowing His Face Apart with Grenade
https://www.facebook.com/19ActionNews/photos/a.250725389442.137081.248731454442/10151558166299443/?type=1&theater

Racismo em Cleveland

Virginia cop pepper-sprays stroke sufferer in the face

Estes são resultados significativos, mas podem ser enganosos. É difícil dizer se há mais violência policial nos EUA do que no Brasil ou se os norte-americanos falam mais sobre violência policial do que os brasileiros. As explicações oficiais para a violência policial, porém, parecem ser semelhantes.

No Brasil ficou famosa a explicação que um policial deu para o tiro de fuzil que matou um carioca que estava usando sua furadeira: o objeto era parecido com uma metralhadora Uzi. Nos EUA a polícia culpou um garoto de colo de não ter se desviado da trajetória de uma granada lançada por um policial. Nos dois casos a culpa foi da vítima.

Culpar a vítima é fácil. Punir um policial é difícil. No Brasil os policiais são geralmente absolvidos com base nos seus próprios relatórios. Nos EUA alguns deles sequer chegam a ser denunciados. A julgar pela avalanche de violência policial cá e lá o fenômeno é uma tendência histórica. E tende a piorar antes que seja revertida.

No Brasil a violência policial é quase sempre praticada na periferia e nas favelas. Nos EUA o fenômeno parece ter um viés claramente racial, pois os negros são as vítimas preferenciais dos policiais brancos.

Num dos casos referidos acima os policiais norte-americanos dispararam mais de uma centena de tiros contra os ocupantes de um carro. Impossível não qualificar aquilo como uma execução a sangue-frio das vítimas com requintes de sadismo cinematográfico. O episódio lembrou-me a primeira invasão do Morro do Alemão pelo Bope, quando publiquei o texto Nazismo à Carioca no Observatório da Imprensa.

Um caso semelhante ocorreu algum tempo depois e o chamei de Nazismo à Carioca 2.

O padrão de conduta dos policiais norte-americanos não é muito diferente do que tem sido utilizado no Brasil. Portanto, já podemos falar de um Nazismo Policial “made in US”. A única pergunta que fica sem resposta é se a brutalidade policial nos EUA está influenciando os policiais do Brasil ou se ocorre exatamente o oposto. Já defendi a tese de que está em curso uma latino-americanização da gringolância.

Não seria o caso dos especialistas começarem a estudar o fenômeno da violência policial levando em conta as influências mutuas e bilaterais entre EUA e Brasil?