Rodrigues Claudio Lima – LGBT: Espelho da invisibilidade

Por *Rodrigues Claudio Lima

“Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Hum! Hum!”
Pagu – Rita Lee

Cabe aqui fazer uma reflexão sobre o que é ser mulher numa sociedade que ainda condena a mulher aos piores salários, que ainda coloca a mulher numa sobrecarga de tarefas, que prega uma submissão devido ao patriarcado, que não garante a presença da mulher nos espaços de poder, na dimensão em relação ao racismo as mulheres negras são subjugadas, colocadas com apelo sexual.

A interseccionalidade de gênero e raça gera um quadro de dupla desigualdade enfrentada pelas mulheres negras, que se manifesta em diversas áreas. As mulheres negras enfrentam as maiores taxas de desemprego (12,2%), por exemplo, enquanto os homens brancos apresentam os menores (5,3%, dados de 2007 do “Retrato das Desigualdades”, 3a edição, IPEA) isso é por excelência da natureza racista do Estado brasileiro.

As mulheres lésbicas, bissexuais estão mais expostas ao preconceito por não se enquadrarem ao padrão heteronormativo, e as consequências são graves, são vulneráveis pela falta de políticas afirmativas. Essas têm seus direitos básicos negados, isso perpassa pela (in) segurança, saúde, a educação, moradia e outros direitos que todo cidadão e cidadã deve ter por excelência.

O dia 29 de agosto está no calendário do país como Dia Nacional da Visibilidade Lésbica desde janeiro de 1995 em virtude do 1º Senale, o Seminário Nacional de Lésbicas. Em 2012 foi o ano que mais lésbicas foram assassinadas no Brasil: 19 mulheres foram mortas. Esse número é quase 5 vezes maior que a média de assassinatos de lésbicas das últimas 3 décadas. Nosso país é recordista mundial em assassinatos por homofobia e 7º colocado em assassinato de mulheres. O Brasil concentra quase metade das mortes por homofobia praticadas em todo o mundo (44%): a cada 26 horas, um LGBT é assassinado.

Infelizmente esse dia falta muito que comemorar, pois há uma invisibilidade a essas mulheres que são marginalizadas, têm a voz silenciada, e na atual conjuntura política em que vivemos, a intolerância tomou conta a ponto de aumentar os casos de estupros corretivos contra as lésbicas, além das mortes devido à lesbofobia.

Por essas razões é que necessitamos ter os movimentos sociais cada vez mais articulados para que possamos garantir os direitos fundamentais para as mulheres lésbicas e bissexuais. É preciso também ter essas pautas dentro dos movimentos de mulheres, pois a raiz da lesbofobia perpassa pela razão do machismo, eco dessa sociedade patriarcal. É preciso apostar no emancipacionismo e protagonizarmos esses movimentos. É fundamental levar as pautas e lutas para dentro dos espaços de poder, após as eleições as mulheres lésbicas continuam cidadãs e por essa razão é preciso reconhecer que a lesbofobia é problema do Estado brasileiro e não do individuo.

Finalizo desejando neste 29 de agosto um dia de reflexão a todas e todos, principalmente dos Movimentos e Partidos avançados, a esquerda brasileira, o povo que hoje vai às ruas para defender a permanência e fortalecimento da democracia, que não abre mão dos direitos já conquistados por nós proletariado. Sabemos que não queremos o retrocesso e por isso nos posicionamos contra um golpe de uma Direita fascista, fundamentalista, racista, LGBTfobica, machista, classista, em meio a tantas vozes.

Presentes na caminhada no dia 20 de agosto também estavam as vozes das mulheres lésbicas que constroem e desenvolvem esse país, e por essa razão o dia 29 de agosto não pode ser banalizado nem esquecido. O grito será das lésbicas, mas cabe a todos nós também entrarmos na luta contra a lesbofobia que é mais um mau a nossa sociedade, mais uma forma de dividir, de submeter à humilhação e dominação.

*Rodrigues Claudio Lima é membro do Movimento Pela Livre Orientação Sexual (MOVELOS)

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