Cordel Umbilical: Carta de Joan para Idalzira

Dona Idalzira, o meu
Bom dia queira aceitar
Eu estou lhe escrevendo
Pras novidades contar
E lhe dizer que Erivan
Veio aqui me visitar

Chegou aqui sexta-feira
Do ônibus vinha enjoado
Lhe recebi muito bem
Com especial cuidado
Levei-o pra passear
Após ele ter jantado

Fui com ele à beira-rio
Um lugar especial
Mas ele só reclamava
Que não estava legal
Dizia que a viagem
Tinha sido infernal

Ligou logo pros amigos
E por lá mesmo ficou
Voltei pra casa sozinho
Comigo ele não voltou
Mesmo assim ele mais tarde
Lá em casa pernoitou

No outro dia o levei
Pra cumprir sua missão
Ministrar sua oficina
Que eu arranjei de antemão
Lhe apresentei a todos
Como sendo meu irmão

Terminado o seu trabalho
Apressou-se em partir
A procura de uns amigos
Com quem queria sair
Não voltou pra minha casa
Nem sei onde ele foi dormir

Lá em casa apareceu
Na tarde do outro dia
Somente para avisar
Que apressado partia
Nem aceitou a merenda
Que Betinha oferecia

Nem sequer agradeceu
Minha hospitalidade
Não disse nem se gostou
Aqui da minha cidade
Aliás, eu lhe vi pouco
Para falar a verdade

E eu que vendi seus livros
Fiz a maior propaganda
Do lucro que ele teve
Não recebi uma banda
Nem um agradecimento
Aquele ingrato me manda

Mas o pessoal parece
Que gostou da oficina
Pois elogiaram muito
O jeito como ele ensina
E o cordel é uma coisa
Que a todo mundo fascina

Gostaram de suas cartas
Que ele leu e mostrou
Dizendo pra todo mundo
Ter sido quem começou
A escrever em cordel
Até isso inventou

O Diogo é que do tio
Na mesma hora gostou
Desde a rodoviária
O pé dele não largou
E pelo tio Erivan
Ainda hoje perguntou

Por isso estou escrevendo
Para o fato narrar
Pra que a senhora saiba
A história sem errar
Antes que outra versão
Erivan vá lhe contar

Receba um beijo meu
Do João Pedro e do Diogo
Betinha manda um abraço
E eu vou encerrando o jogo
Que é quase meio-dia
E este Sobral é um fogo

Sobral, 26 de setembro de 2005