Reforma: Dilma erra ou acerta?

Mas tudo isso são situações que deve ser entendida a partir de uma visão global, levando-se em conta a “floresta” e não a “árvore”, que, em última instância, é determinada pela correlação de forças e pelos desafios concretos de um dado momento histórico.

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 • Miranda Muniz

“ Dilma entrega os pontos”
– (editorial do Estadão).

“ Dilma está se deixando levar, e vai também por passos próprios, para muito perto de humilhações” – (Josias de Souza, colunista da Folha de São Paulo).

“ Reforma ministerial ou arrastão” – Blog do Noblat (O Globo).

“ [A reforma] está tendo como resultado a desqualificação ainda maior de um governo muito pouco qualificado" – (Aécio Neves candidato derrotado em 2014).

“ Sob o conselho de Lula, reforma ministerial de Dilma vira ameaça à nação” – (Joice Hasselmann/ Colunista da Revista Veja).

Ante ao recrudescimento da crise econômica mundial do sistema capitalista, bem como da crise política em curso no país, catapultada por setores da oposição inconformados com a derrota em 2014, a presidenta Dilma anunciou uma “reforma ministerial”, com trocas de ministros e diminuição de estruturas governamentais.

Dois objetivos são perseguidos: diminuição dos gastos públicos e recomposição da base política no Congresso Nacional para garantir a governabilidade e barrar as tentativas golpistas.

Pelas manchetes colecionadas no início deste artigo, percebe-se que os meios de comunicação hegemônicos, um dos promotores do “cerco” à Presidenta, e de expoentes da oposição desaprovaram por completo a iniciativa de Dilma Rousseff.

Uma pergunta que não quer calar: será que essa gente está de fato preocupada com possíveis "erros" da Presidenta na reforma? Ou está preocupa exatamente pelo fato da Presidenta ter acertado em procurar reforçar sua base no Congresso e assim colocar um freio nas tentativas golpistas?

Eu, cá com meus botões, fico com a segunda hipótese.

É claro que a reforma possa trazer em seu bojo alguma injustiça pontual. Por exemplo, ventila-se que o meu partido, o PCdoB, seria desalojado do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e o camarada Aldo Rebelo passaria a ocupar o Ministério da Defesa. Em minha opinião, perderemos espaços, pela importância do MCTI. É certo que por outro lado, o fato de um comunista ocupar a pasta da Defesa e “comandar” as Forças Armadas, não deixa de ter um simbolismo impar, um gostinho especial, algo impensável quando decidir me filiar ao Partido, em 1979, fase decadente da Ditadura Militar.

Só a imprensa ter ventilado essa probabilidade foi o suficiente para que direitistas e reacionários empedernidos tivessem chiliques e ataques coléricos!

A saída do ministro Arthur Chioro da pasta da Saúde, um profissional exemplar e comprometido com a saúde pública e com o SUS, certamente trás frustrações.

Mas tudo isso são situações que deve ser entendida a partir de uma visão global, levando-se em conta a “floresta” e não a “árvore”, que, em última instância, é determinada pela correlação de forças e pelos desafios concretos de um dado momento histórico.

Um estrategista (que não me recordo quem foi) ensina que quando você depara com uma guerra e tem que escolher um lado, então deve tentar identificar de que lado estão seus inimigos e ir para o lado oposto. Tal conselho poderia muito bem ser utilizado na análise da chamada “reforma ministerial”. Se eles (o PIG e a oposição) estão uníssonos contra, é a certeza que Dilma mais acertou do que errou.

Portanto, fico do lado da Presidenta!

• Miranda Muniz – agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça-avaliador federal, dirigente da CTB/MT e do PCdoB-MT.