Sabesp fornece água contaminada por metais pesados e agrotóxicos

Metais pesados e agrotóxicos foram detectados na água já tratada pela Estação de Tratamento de Água (ETA) Rio Grande, que abastece as torneiras da população dos municípios de São Bernardo, Diadema e de metade de Santo André, todos pertencentes ao ABC paulista. 

TCE culpa governo Alckmin por crise hídrica e diz que faltou planejamento

As informações foram dadas pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, em audiência pública sobre contaminação de alimentos e água por agrotóxicos realizada na última terça-feira (6), em Santo André. Os laudos são da própria Sabesp.

Nas amostras analisadas, entre 2012 e 2015, a água da ETA Rio Grande contém agrotóxicos como o glifosato, além de metais como cádmio, chumbo, fluoreto, níquel, urânio, glifosato (agrotóxico), trihalometanos, alumínio dissolvido e surfactantes. Também foram encontrados resíduos de urânio, que é radioativo.

A maioria dos contaminantes está dentro dos níveis permitidos pela portaria 2.914, do Ministério da Saúde – que trata da potabilidade da água, mas que prevê o monitoramento de apenas 27 dos 467 agrotóxicos registrados no Brasil. Porém, a água apresenta níveis de chumbo 40% acima do limite imposto pela portaria. “Esse mínimo de segurança não é segurança. São produtos químicos tóxicos e não sabemos o que essa mistura, a longo prazo, causa no nosso organismo, mesmo em pequenas quantidades”, afirmou a engenheira química Sônia Hess, professora e doutora da Universidade Federal de Santa Catarina, que analisou os laudos da Sabesp a pedido da Defensoria.

“Jogamos todo tipo de imundície na nossa água, porque se criou um mito de que lá na estação de tratamento toda a sujeira sai, que o cloro tira tudo. Mas isso não é verdade, os contaminantes químicos deixam resíduos”, disse Sônia.

Ela explicou que a desinformação leva o glifosato a dominar o mercado agrícola brasileiro de defensivos químicos. Pesquisas médicas internacionais, segundo a engenheira, mostram que o glifosato é potencialmente cancerígeno, além de induzir a diabetes, doenças cardíacas, depressão, infertilidade, Mal de Alzheimer e Mal de Parkinson. “Hoje 43,8% do mercado brasileiro usam o glifosato, porque pouquíssimas pessoas sabem o quanto é perigoso”, disse.

Além do agrotóxico, os metais pesados como níquel, cádmio e trihalometanos (subproduto criado da mistura do cloro e esgoto) também causam câncer. “O câncer é a segunda causa de morte no Brasil e, diante desses números, tende a aumentar”, comentou Sônia.

Outro dado que preocupou a engenheira química foi a presença de urânio na ETA Rio Grande. “É preciso investigar de onde está vindo isso. Até recomendo que sejam feitos os testes novamente, porque é muito grave”, afirmou. Já o chumbo, explicou, causa danos aos rins, fígado, sistema nervoso, cérebro, órgãos reprodutores e à região gastrintestinal.

“Estamos chegando a um ponto de quase não retorno com a água. E vale ressaltar que a Vigilância Sanitária não fiscaliza, ou seja, a Sabesp é quem fiscaliza a água que ela mesma entrega”, observou o defensor público Marcelo Novaes.

Risco à saúde

Testes que foram realizados na Billings no início do ano, apontaram a presença de salmonella como a shiguella nas águas da represa.

Segundo Marta Marcondes, professora da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, especialista em questões ambientais, as bactérias vêm junto com a contaminação por esgoto não tratado.

“Tanto a salmonella como a shiguella são bactérias que costumam desenvolver uma infecção intestinal que é persistente e a pessoa que estiver debilitada vai sofrer muito mais com isso”, diz. “Criança chega até a morrer por conta de diarreia e vômito. Idoso também”, afirmou.

Billings: Obra de transposição enfrenta série de problemas 


O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou em janeiro a transposição da represa. A obra consiste na construção de um duto de 22 quilômetros para ligar os sistemas Billings e Alto Tietê, além de sistemas de bombeamento, ao custo de R$ 130 milhões. Hoje a Billings abastece os municípios de Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá.

De acordo com o presidente da Sabesp, Jerson Kelman, uma obra do Rio Pequeno, braço da represa Billings que será usado para reforçar e evitar a seca do braço Rio Grande, deixou de ser tratada pela empresa como uma intervenção emergencial.

Procurada, a Sabesp não se manifestou.