Reorganização de Alckmin não tem valor pedagógico, diz sindicalista

Em entrevista ao Vermelho, a presidenta do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo (APOESP), Maria Izabel Noronha, ataca o governo Alckmin e diz que reorganização do ensino não foi discutida com a categoria.

Por Juliana Cunha

Maria Izabel Noronha - Apeoesp/ Divulgação

Prevista para o ano que vem, a medida pretende dividir as escolas públicas do estado por ciclos, fazendo com que cada escola ofereça aulas de apenas um dos três ciclos do ensino básico, compartimentados entre Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Na prática, a proposta vai deslocar metade dos alunos da rede estadual das escolas onde estudam atualmente e pode fechar até mil unidades de ensino, segundo estimativa do sindicato.

Noronha nega que divisão de escolas por séries traga benefícios pedagógicos e afirma que o governo está subvertendo uma pauta histórica dos professores

Leia a entrevista a seguir:

O Ministério Público instaurou inquérito civil para investigar a proposta de reorganização do governo. Uma das dúvidas do MP é se a categoria foi consultada. Os professores foram questionados antes ou souberam da medida pela imprensa?

Não houve nenhuma consulta à categoria, que recebeu o pacote fechado da Secretaria da Educação. Uma proposta dessas tinha que passar por assembleia com pais, alunos e docentes. Para fazer corretamente, seria um processo de meses, mas a gente sabe que isso não foi feito porque o objetivo não é reorganizar coisa nenhuma, e sim cortar verbas da educação, fechar escolas, transferir alunos e congelar a contratação de professores.

Segundo o secretário da Educação, 91 dirigentes de ensino de todas as regiões do estado estão apresentando propostas à secretaria, que ainda vai analisá-las. Isso é verdade? O sindicato sabe quem são esses dirigentes e tem contato com eles? Não foi dado ao sindicato o direito de apresentar propostas?

O sindicato não foi chamado para dialogar em momento algum, eu inclusive fui expulsa do prédio da Secretaria por um assessor do sr. Herman Voorwald durante uma mobilização. Alguns dirigentes de ensino repassam informações ao sindicato, bem como alguns diretores de escola que já foram notificados dos fechamentos.

O secretário fica dizendo que é tudo boataria, mas tem uma boa forma de acabar com a boataria: transparência, coisa que muito falta a esse governo, que é intransigente e desrespeitoso conosco.

Tudo nesse governo é sigiloso, nada tem diálogo com a sociedade. Onde estão os estudos de viabilidade dessa proposta? Onde estão os estudos que mostram ser possível que os alunos não sejam transferidos para escolas mais de um quilômetro e meio distantes de onde estudam? Eles falam em ociosidade da rede pública quando trabalhamos com salas no limite da superlotação. O estado de São Paulo é o que menos aplica a jornada extraclasse de professores. Se houvesse “ociosidade”, ela seria bem-vinda para melhorarmos o ensino, não para fechar escola e apinhar alunos em classes superlotadas.

A proposta de dividir as escolas por séries é interessante do ponto de vista pedagógico?

De forma alguma. É uma canalhice o que estão fazendo. Pegaram o conceito de ciclos, que é uma bandeira histórica dos professores, e subverteram para embalar um projeto de fechamento de escolas.

Ciclo prevê a integração entre uma etapa e outra, prevê uma organização mais fluida dos alunos por idade e ritmo de aprendizado e não uma separação estanque de prédios. Isso é seriação, é uma versão piorada do que já temos.