Cinco filmes argentinos sem Ricardo Darín

Impossível falar em Argentina sem citar o cinema. Os argentinos produzem muito, e com bastante qualidade. É a produção cinematográfica mais destacada do continente. No entanto, os filmes que costumam fazer sucesso entre o grande público ultimamente têm algo em comum: o ator Ricardo Darín. Sim, a equipe do Vermelho também admira muito o trabalho dele, mas selecionamos cinco filmes onde Darín não aparece, e nem por isso deixaram de conquistar os amantes da sétima arte.

Por Mariana Serafini

Ricardo Darín - Divulgação

As políticas públicas voltadas para a produção cinematográfica na Argentina são muitas, mas o marco desta indústria tão promissora se deu em meados dos anos 90, quando o Instituto Nacional de Cine e Artes Audiovisuais enfrentou o grande mercado mundial de Holywood e estabeleceu regras no país para a exibição de filmes nacionais e estrangeiros. Na época, quase 90% das salas argentinas exibiam o cinema norte-americano, mas a resolução que regulamenta a cota de exibição estabeleceu regras nas quais os exibidores deveriam estrear e manter filmes nacionais em cartaz. Esta medida abriu um amplo terreno para o crescimento da produção cinematográfica interna.

Os incentivos não pararam por aí, em 1995 foi sancionada a Nova Lei de Cine, que incentivou tanto o cinema, quanto a televisão, captar recursos para financiar as produções e estabelecer regimes de co-produção internacional. Esta iniciativa abriu um novo caminho para o cinema argentino e surgiram autores que renovaram a estética e a linguagem no país.

Outra ação importante do Instituto foi a criação do Fundo de Fomento Cinematográfico, taxas que geram receitas. Ou seja, as taxas são cobradas de três fontes: 10% sobre o preço da bilheteria, 10% sobre venda ou aluguéis em locadoras e 25% da renda do Comitê Federal de Radiodifusão, que regula o rádio e a televisão. Desta forma, os subsídios disponibilizados à produção são ligados aos resultados da bilheteria. Já os produtores independentes, que nem sempre contam com sucesso de bilheteria, utilizam o subsídio de Recuperação Industrial, mecanismo que seleciona e adquire algumas das produções.

Estas iniciativas públicas, aliadas à uma tradição de produção cinematográfica que vem desde a metade do século 20 transforaram a Argentina num polo. Desta forma, não foi difícil selecionar cinco obras onde um dos atores mais admirados da América Latina não participa. Os cinco filmes sem Darín são todos da nova leva que começou nos anos 2000.

Porém, não resistimos e sim, vamos dar uma colher de chá e indicar dois filmes com Darín, mas estes são um bônus. Estão no final da lista.

Veja a lista na íntegra:

As Acácias (Pablo Giorgelli) 

Uma história simples e singela. O filme mostra, de forma bastante minimalista, o início de uma amizade (ou não) entre Rubén, um caminhoneiro solitário, e Jacinta, uma desconhecida para quem ele aceita dar uma carona de Asuncíon, no Paraguai, até Buenos Aires, na Argentina.

A maior parte das cenas se passa dentro do caminhão, com Rubén prestando atenção em seu trabalho enquanto Jacinta tenta entreter sua filhinha, de pouco menos de um ano, do tédio da viagem. Longas cenas em silêncio, trilha sonora agradável e fotografia bonita se destacam nesta obra.
Família Rodante (Pablo Trapero)

Esta comédia mostra as desventuras de uma família de 12 integrantes que resolve fazer uma viagem em um motorhome desde Buenos Aires até um município no interior de Misiones, ao Norte da Argentina. Além das peripécias que acontecem no meio do caminho, o filme traz uma paisagem incrível do país vizinho.

A longa viagem faz com que as quatro gerações da família convivam com suas dúvidas, frustrações, desejos e sonhos, o que não significa, necessariamente, que eles aprendem a lidar uns com os outros.
 
Histórias Mínimas (Carlos Sorín)

Diversas histórias que se cruzam e têm em comum o fato de se passar no mesmo povoado. Uma jovem que ganha um prêmio de um programa de TV, um velho que sai em busca de seu cão fugitivo e um homem que pretende o amor de uma mulher.

Cada um deles viaja por sua conta pelas solitárias rotas da Patagônia, mais uma vez a paisagem e a fotografia são destaque na obra.
 
Medianeras (Gustavo Taretto) 

Uma comédia romântica que traz à tona “problemas da vida contemporânea”. Solidão, busca de atenção e/ou relacionamentos pela internet (e as decepções que isso pode gerar), a facilidade de se “desfazer de memórias” arquivadas de forma eletrônica…

Em meio à vida agitada de Buenos Aires, o web designer Martin e a arquiteta (que trabalha como vitrinista) Mariana estão mais próximos do que imaginam e a saga para eles se conhecerem rende boas risadas e um tanto de angústia. Quase impossível assistir ao filme e não correr para o Youtube buscar pelo vídeo “Mariana e Martín”.
 
O Cachorro (Carlos Sorín)

Juan Villegas (Juan Villegas) é um homem de 56 anos que, nos últimos 20 anos, trabalhou em um posto de gasolina localizado em uma estrada pouco movimentada da Patagônia. Após o posto ser vendido, os novos donos pensam em modernizá-lo e, com isso, Juan é demitido juntamente com os demais empregados.

Enquanto busca um novo trabalho, ele tenta sobreviver de uma velha paixão: confeccionar facas com cabos artesanais. A tentativa não dá certo e, com a idade já avançada, fica ainda mais difícil conseguir outro emprego. Ao realizar um pequeno trabalho para uma senhora idosa que também passa por problemas financeiros, ela oferece a ele um cachorro como pagamento. É quando a sorte de Juan começa a mudar.
 
 
Bônus
O segredo dos teus olhos (Juan José Campanella )

Este file tem uma das melhores cenas dos últimos tempos do cinema argentino: uma perseguição a um suspeito dentro de um estádio de futebol completamente lotado. A história do recém aposentado Bejnamin Esposito envolve a paixão pela literatura (e por sua chefe), a investigação de um crime macabro e a relação com seu grande amigo Pablo Sandoval.

Benjamin era oficial de justiça e ao encerrar a carreira decide escrever um livro sobre um crime que marcou sua vida devido aos requintes de crueldade. Com isso ele busca também ajudar o marido da vítima que nos anos 70 foi estuprada e assassinada provavelmente por algum conhecido do casal.
Um conto chinês (Sebastián Borensztein) 

Um misto de minimalismo e fantasia compõe esta obra que traz um Darín absurdamente recluso e rabugento. O personagem Roberto vive atrás do balcão de uma pequena loja de ferragens e tem o hobbie de colecionar notícias inusitadas.

A tranquilidade é interrompida quando ele encontra um jovem chinês que acabou de ser assaltado, mas por não saber falar absolutamente nenhuma palavra em espanhol, tem dificuldade de explicar o que aconteceu. Começa então, aos trancos, uma relação de amizade entre os dois porque apesar de solitário e mal-humorado, Roberto decide ajudar o imigrante e o leva para morar em sua casa.