Premiê israelense diz que Hitler não queria queimar judeus

Em discurso feito durante congresso sionista em Jerusalém nesta terça-feira (19), o premiê israelense chocou a plateia ao afirmar que teria sido um líder religioso muçulmano palestino que teria "dado" a Hitler a ideia de extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Benjamin Netanyahu

A "proeza" intelectual foi justamente criticada ao redor do mundo depois de proferida. No discurso, Netanyahu tentava rebater as acusações de que Israel tenta destruir ou assumir o controle da Esplanada das Mesquitas de Jerusalém. A questão tem um papel crucial na atual onda de violência entre israelenses e palestinos. Porém, no fim, acabou defendendo Hitler.

Netanyahu se referiu ao encontro de novembro de 1941, na Alemanha, entre Adolf Hitler e o então grande mufti de Jerusalém Haj Amin al-Husseini. "Naquele momento, Hitler não queria exterminar os judeus, queria expulsar os judeus. Então Haj Amin al-Husseini foi encontrar Hitler e disse: 'Se expulsá-los, todos virão para cá'", fantasiou Netanyahu.

"'Então, o que devo fazer com eles?', perguntou (Hitler). Ele respondeu: 'Queime'", completou o primeiro-ministro.

Husseini, refugiado na Alemanha em 1941, pediu a Hitler seu apoio para a independência da Palestina e dos países árabes e para impedir a criação de um estado sionista. Israel foi proclamado em 1948.

As palavras de Netanyahu provocaram muitas críticas em Israel e fora do país. "O filho de um historiador deve ser preciso quando se trata de história", escreveu no Facebook o líder da oposição trabalhista Isaac Herzog, em referência ao pai do primeiro-ministro, Benzion Netanyahu, especialista na história judaica, que morreu em 2012.

Herzog classificou as palavras de Netanyahu de "perigosa deformação histórica (…) que minimiza o Holocausto, os nazistas e a participação de Adolf Hitler na terrível tragédia que nosso povo sofreu".

O negociador palestino Saeb Erakat lamentou que o "chefe de Governo israelense odeie tanto seu vizinho (palestino) a ponto de estar disposto a absolver o mais notório criminoso de guerra da história, Adolf Hitler, do assassinato de seis milhões de judeus durante o Holocausto".

Dina Porat, principal historiadora do Yad Vashem, a instituição que administra a memória do Holocausto em Jerusalém, provou que as declarações de Netanyahu são mentirosas em artigo publicado no Haaretz online.

"Embora tivesse posições antijudaicas muito extremas, não foi o mufti que deu a Hitler a ideia de exterminar os judeus", afirmou à AFP. "A ideia precede em muito o encontro de novembro de 1941. Em um discurso no Reichstag em 30 de janeiro de 1939, Hitler mencionou 'um extermínio da raça judaica'", explicou.

É inegável que Husseini tivesse um posicionamento antijudaico e se declarasse nazista. Simpatia pela tirania fascista era comum entre nacionalistas árabes nos anos 1930 e 1940. Durante a guerra era natural que os árabes, controlados e colonizados pelos britânicos na época, simpatizassem com seu inimigo, a Alemanha fascista.

No entanto, mesmo assim, Hitler não precisava de ninguém para convencê-lo de nada, ainda mais de uma figura sem relevo histórico na época como Husseini, que havia sido colocado no cargo de mufti de Jerusalém, ironia das ironias, pelo Alto Comissário do Império Britânico Herbert Samuel, o primeiro judeu a servir no gabinete ministerial de um governo britânico.

A origem do diálogo exposto por Netanyahu também é obscura. Não há na história documentada da conversa entre Hitler e Husseini nada que sugira o tal diálogo. Nenhum estudioso sério do Holocausto acredita no que Netanyahu falou.