Scioli presidente, argentinos escolhem continuidade do Kirchnerismo

O candidato da coalizão governista Frente Para a Vitória, Daniel Scioli, foi eleito presidente da Argentina, no segundo turno das eleições, realizado domingo (22) com XXX dos votos. Apoiado pela atual presidenta Cristina Kirchner, ele representa a continuidade de projeto iniciado em 2003 por Néstro Kirchner, cujo foco é desenvolver políticas sociais de inclusão e fortalecer a economia local e o Estado, além de fomentar a integração continental.

Daniel Scioli - Divulgação / Campanha

Esta foi a primeira vez que a Argentina teve um segundo turno presidencial. O resultado acirrado do primeiro turno, no dia 25 de outubro, levou os dois candidatos à campanha intensas em todo o país. Analistas políticos e partidos de esquerda acreditam que a campanha possibilitou evidenciar as diferenças drásticas entre os dois projetos.

Daniel Scioli defende que seu país precisa de defensor da independência econômica, que siga com a recuperação e nacionalização dos serviços básicos do país. “Vocês precisam de um presidente que defenda nossa independência econômica diante dos fundos abutres para que as dívidas não nos asfixiem”, afirmou.

Ressalta que as eleições constituem um passo firme para o desenvolvimento. “Em nosso plano de governo voltamos a ratificar: Terra, teto e trabalho, como disse o Papa!”. Afirmou uma vez mais que a Argentina precisa manter o foco nos setores mais humildes, nos trabalhadores e na classe média.

Nacionalização e soberania são o foco do novo presidente. “A Argentina precisa de um presidente que promova o respeito à justiça e aos direitos humanos, um presidente capaz de aprofundar as mudanças e encaminhar o país à soberania energética”. Garantiu que vai continuar no processo de recuperação de trens, rodovias e empresas aéreas: “nada de privatizações”.

O resultado foi divulgado pela Câmara Nacional Eleitoral da Argentina, maior autoridade de controle dos votos do país. As eleições, que iniciaram às 8 horas e encerraram às 17 horas (horário local), transcorreram com tranquilidade e tiveram adesão popular de quase 80%. Mais de 32 milhões de argentinos puderam votar neste segundo turno inédito no país. 

Perfil

Em 2014, Daniel Scioli assumiu a presidência do Partido Justicialista (de Cristina e Néstor Kirchner) e desde 2007 é o governador da Província de Buenos Aires. Antes disso era o vice-presidente de Néstor, entre 2003 e 2007. Mas sua carreira política é mais antiga, já foi também deputado pelo PJ e secretário de Esportes e de Turismo. Fora da vida política, entre 1980 e 1990, foi um dos mais renomados velejadores da Argentina e campeão mundial da modalidade por oito vezes.Sempre próximo aos Kirchner, ele foi o escolhido da própria presidenta para dar continuidade ao projeto de inclusão social desenvolvido na última década.

Ao contrário do que a grande mídia, tanto na Argentina, quanto no Brasil, afirma, Scioli é considerado o melhor quadro político do país para seguir com um projeto alinhado às políticas adotadas por Néstor e Cristina. Desta forma, Scioli não encerra o projeto dos Kirchner, mas aprofunda e amplia as mudanças sociais. Ele afirmou diversas vezes durante a campanha que o kirchnerismo é um projeto político que vai muito além de uma família, ou seja, defende um projeto consolidado e não um sobrenome, como a direita tenta afirmar com declarações inflamadas.


Daniel Scioli e Carlos Zannini |Foto: Telám

Durante sua gestão como governador da província de Buenos Aires, Scioli promoveu reformas para beneficiar a comunidade, entre elas a Lei de Fertilização Assistida gratuita, cujo objetivo é atender, de forma segura em hospitais públicos, os casais que buscam ter filhos por meio de inseminação artificial. 

Scioli também implementou a lei que estabelece o direito à moradia digna para todos os cidadãos da província, promoveu reformas estruturais na área de Segurança Pública e impulsionou a criação das Unidades de Pronto Atendimento, conhecidas também como UPAS. A última UPA inaugurada recentemente, recebeu o nome de Luiz Inácio Lula da Silva, em homenagem ao ex-presidente brasileiro.

Durante sua campanha, Scioli afirmou repetidas vezes que vai manter a Argentina alinhada ao projeto de integração regional iniciado pelos presidentes progressistas do continente no início deste século. Com relação à política externa, deixou claro que, assim como Cristina, vai seguir enfrentando os fundos abutres e não se curvará ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Plano de governo

Entre as principais ações anunciadas para o plano de governo de Scioli estão políticas na área de Educação, Saúde, Trabalho, Economia, Infraestrutura, Adultos e Maiores e Moradia.

Veja algumas das principais propostas para cada área apresentadas durante a campanha presidencial:

Educação – aumentar em 70% o investimento em Ciência e Tecnologia, atingindo assim 6% do PIB; ampliar o fornecimento de internet banda larga a fim de fortalecer a inclusão digital por meio da extensão e melhoria da rede de fibra ótica implementada pelo satélite argentino Arsat-1.

Saúde – reduzir a mortalidade infantil e materna; descentralizar o sistema de atenção de saúde pública; criar hospitais intermediários e UPAs em todas as cidades do país; ampliar o nível nacional de formação de enfermeiros na Escola de Enfermagem Eva Perón.

Trabalho – fortalecer o trabalho com um grande sistema nacional, reduzir pela metade a porcentagem de trabalhadores informais em um período de quatro anos, melhorar os direitos trabalhistas e a condição de trabalho dos trabalhadores.

Economia – o câmbio será fixado pelo Banco Central em uma flutuação administrada; baixar a inflação a um dígito; institucionalização de um Diálogo Agropecuário Federal e Nacional; pagar 100% dos credores internacionais em condições justas, legais, equitativas e sustentáveis.

Adultos e maiores – devolver o Imposto ao Valor Agregado aos aposentados e pensionistas e utilizem cartão e recebam até um salário mínimo; fazer o mesmo com os beneficiados pela Asignación Universal por Hijo (equivalente ao Bolsa Família no Brasil).

Moradia – aprofundar o Procrear (programa de crédito argentino equivalente ao Minha Casa, Minha Vida, no Brasil), ampliando as linhas d crédito e adotando nova fontes de financiamento; exigir dos bancos privados créditos e taxa acessíveis e de longo prazo para os trabalhadores e para a classe média; construir 250 mil moradias populares por ano, com uma meda de 1 milhão de novas casas em quatro anos; criar novos espaços urbanos.

Governadores

Algumas províncias elegeram seus governadores também neste domingo: Buenos Aires (resultados), Catamarca(resultados), Chubut(resultados), Entre Ríos(resultados), San Juan(resultados), San Luis(resultados), Santa Cruz(resultados), Formosa(resultados), Jujuy(resultados), La Pampa(resultados) e Missiones (resultados).