Publicado 10/11/2015 10:40 | Editado 04/03/2020 16:25
A corrupção acha-se bem presente na propaganda antimonarquia dos republicanos, no discurso tenentista contra a República Velha e na acusação do “mar de lama” ao segundo governo Vargas; na preparação do golpe de 1964 e na derrocada, em 1985, da ditadura; no impeachment de Collor e, a partir de 2005, nas denúncias da oposição (ver Carvalho, José Murilo. Passado, presente e futuro da corrupção brasileira. In: Corrupção: Ensaios e críticas. BH: Editora UFMG, 2008, p. 237).
Feita essa retrospectiva histórica, três aspectos da crise atual merecem atenção.
O primeiro é que os governos do PT e de seus aliados realizaram um bem-sucedido esforço de combate à pobreza, promovendo ao mercado de consumo de massa mais de 30 milhões de pessoas. Mas tais avanços resultaram de programas sociais, da política de valorização do salário mínimo e de menor superávit primário, que desagradaram a importantes centros de poder e de formação de opinião no País.
Esses mesmos governos projetaram de forma mais afirmativa o Brasil no cenário internacional. Porém, o modo de exploração do pré-sal e a entrada do País no Brics e, em especial, o estreitamento de relações com a China contrariaram grandes interesses no sistema ocidental.
Mas o Brasil avançou muito. Só que, como nos governos passados, por conta de financiamento de campanha e construção de maioria parlamentar, abriram o flanco a escândalos de corrupção.
Surge e é julgada a Ação Penal nº 470 (2005-2006), movida pelo Ministério Público no Supremo Tribunal Federal, que expulsou da vida pública lideranças de proa do PT. E o cerco continua, principalmente com a Operação Lava Jato (há outras, como a Zelotes), deflagrada pela Polícia Federal (2014), que atinge a Petrobras. Esse é o segundo aspecto.
Pois bem: é inevitável que, com as empresas investigadas sem operar, sem acesso ao crédito nem às licitações, desorganize-se a cadeia de petróleo e gás. Segundo o estudo do Ministério da Fazenda, sob o título “Impacto da redução dos investimentos do setor de óleo e gás no PIB”, a FGV estima que o impacto negativo do plano de negócios da Petrobras seria de US$ 30 bilhões ou 1,7% do PIB, números nada desprezíveis, que contaminam parte expressiva da economia nacional.
O terceiro é o ódio fratricida crescente que campeia nos quatro cantos do País, fonte de conflito que poderá prolongar a crise e o desassossego social por muitos anos.
A corrupção é abominável sob todo ponto de vista e, se prospera numa democracia, tal se deve muito à negligência e à impunidade, cujo antídoto mais eficaz reside na cidadania ativa e em mais democracia, sem rancor nem intolerância. Tem de ser combatida sem tréguas, desde que, nos limites da Constituição, sem a desestruturação da economia nem o comprometimento da governabilidade. O Brasil não pode nem vai voltar atrás.
Por *Cláudio Ferreira Lima é economista
Fonte: O Povo
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