Luta dos estudantes faz com que Alckmin recue e adie reorganização

O governo Alckmin sofre sua primeira derrota da gestão. Em coletiva de imprensa que ocorreu na tarde desta sexta-feira (4), o governador tucano disse que irá adiar a implementação da reorganização escolar, mas não falou em cancelamento do plano. Alckmin afirmou que pretende travar o diálogo, o que não correu quando o plano foi noticiado pelo secretário e educação, Herman Voorwald, no mês de outubro e pegou pais, professores e estudantes de surpresa. 

Luta dos estudantes faz com que Alckmin recue e adie reorganização

Caso o plano fosse implementado, 93 escolas seriam fechadas e 311 mil estudantes seriam afetados.

O governador afirmou que as escolas não serão fechadas em 2016 e que os estudantes permanecerão nas escolas onde estão matriculados. O tucano citou o Papa Francisco ao reafirmar sobre a importância do diálogo para a sua gestão. Coincidência ou não, Alckmin anuncia o adiamento do plano de reorganização escolar ao mesmo tempo em que uma pesquisa da Data-Folha divulga que a sua popularidade despencou, em menos de 1 ano, de 48% para 28%. Além disso, 30% dos paulistas classificam sua gestão como ruim ou péssima.

A presidenta da Ubes, Camila Lanes, comemorou a decisão, porém salientou que os estudantes continuarão pressionando o governo durante todo o processo de rediscussão da reforma no ensino paulista."Mexeu com os estudantes, você vai sair perdendo. Foi uma grande vitória dos estudantes para marcar que pela primeira vez em 23 anos o seu governo teve uma grande derrota para provar que ele pode mexer com a água, com o metrô, com a PM, mas se ele mexeu com o estudante ele vai ter essa resposta. Ocupar e resistir e só desistir quando retroceder", afirma Camila.

Entenda o caso

O governo Alckmin, Herman Voorwald em meados de outubro, anunciou que, a partir de 1016, seria implementada uma reforma educacional na rede estadual, que passaria a funcionar por ciclos e teria, por consequência da ociosidade de vagas, escolas fechadas. O ensino noturno seria o mais afetado com o plano, causando um maior impacto aos estudantes do EJA.

Especialistas em educação denunciaram o conteúdo privatista do plano, que, na verdade, promoveria o inchaço das salas de aulas e também uma fuga de alunos para colégios particulares, com um número menor de matriculas oferecidas na rede estadual de ensino.

Estudantes, movimentos sociais, educadores e o Ministério Público denunciam que, com o tratamento antidemocrático estabelecido pelo governo do estado ao implementar o imediato fechamento das 93 escolas, a única alternativa que restou aos estudantes foi a de ocupar seus colégios, no intuito de forçar um diálogo com o governo e denunciar a sociedade o desmonte educacional promovido pelo PSDB em São Paulo. Em resposta, o governo do estado dizia que não travaria diálogo com “ações promovidas por forças políticas”. 

Apoio popular

A partir disso, o número de escolas ocupadas foi crescendo diariamente, chegando ao número de 213 escolas, segundo informações da Apeoesp e, paralelamente, o apoio popular também. Vários professores se disponibilizaram para dar aulas voluntarias aos estudantes, artistas e músicos também marcaram presença nos colégios, levando arte e cultura aos ocupados. Os estudantes, que se alojaram nos colégios por um mês, davam uma aula de cidadania: Muita limpeza e organização nos colégios ocupados, mostrando o zelo  necessário com o espaço que educa seguidas gerações de cidadãos.

Ao contrário sociedade que abraçou a causa dos estudantes, o governo Alckmin continuou a usar da violência e não diálogo com os estudantes. Nos últimos dias, as ruas de São Paulo viraram uma praça de guerra. Estudantes que lutavam por uma educação digna, foram presos e espancados à luz do dia pela polícia militar, todo o cenário regado a muito spray de pimenta, bombas de efeito moral e gás lacrimogênio. O que o governador e sua equipe demorou para perceber é que toda aquela movimentação estava desgastando e comprometendo a sua popularidade.

Mesmo com toda a truculência e silêncio por parte do governador, os estudantes resistiam e gritavam “Não vai ter arrego, se fecharem minha escola eu tiro o seu sossego!”, e assim o ato de resistência seguiu e segue até nesta sexta-feira (4), quando o governador Geraldo Alckmin anunciou o adiamento do plano e reorganização escolar.