Temer ou não temer o Michel?

Além disso, deve saber de “cor e salteado” uma frase lapidar do sagaz Leonel Brizola: “A política ama a traição, mas abomina os traidores!”

Não vai ter golpe - Miranda Muniz
 • Miranda Muniz

A atitude revanchista e tresloucada do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que no afã de safar-se de um processo no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar ante a constatação de contas na Suíça, suas e de seus familiares, recheadas de dinheiro sujo de corrupção, decidiu “receber” uma denúncia, desprovida de substância jurídica, que pede o impedimento da presidenta Dilma Rousseff, deixou o cenário político ainda mais instável.

A “oposição”, que anteriormente havia anunciado um “rompimento” com Cunha, figura controversa e chantagista que eles ajudaram eleger, agora retorna a seus braços sem dá a mínima à suas falcatruas, com o único objetivo de tentar afastar a Presidenta legitimamente eleita.

Nesse contexto, ganha centralidade a posição e atitudes do Vice-presidente, Michel Temer, afinal, em caso de impedimento da titular ele assumiria a Presidência. Por conta disso, há intensa especulação sobre sua conduta nesse processo.

A mídia hegemônica, de claro DNA golpista e historicamente sempre resistente aos avanços sociais e democráticos, juntamente com setores da “oposição” usam e abusam de fatos e factoides para tentar levar Vice para a nau insensata dos “impitimeiros”.

Também não dá pra negar que o Vice tem gostado de ser “a noiva da vez”…

Posso até ser chamado de “ingênuo” ou “mal informado”, mas, particularmente, não sou daqueles que enxerga o Vice como um “traidor” ou “conspirador”. Entendo que determinados movimentos que ele faz está mais para a esfera da “pressão e contra pressão”, na maioria dos casos legítimas, próprias de uma aliança heterogênea e às vezes mal administrada. Os “pmdbistas” são craques nesse quesito.

É bom lembrar que Michel Temer não é nenhum “marinheiro de primeira viagem” na política. Pelo contrário, é um homem com grande experiência, que já ocupou inúmeros cargos. Como renomado constitucionalista, sabe muito bem das fragilidades das acusações, além, é claro, da honradez da Presidenta.

Também tem ciência que Dilma não é Collor. Diferentemente do ex-presidente, que fora eleito por um partido inexpressivo e que foi abandonado por todas as forças políticas, chegando ao desespero de ocupar cadeia de rádio e TV para implorar apoio popular com a célebre frase “Minha gente. Não me deixem só. Eu preciso de vocês”, sem encontrar eco, a situação da presidenta Dilma é bem mais confortável.

Em que pese seu baixo índice de popularidade no momento atual, Dilma foi eleita pelo partido que tem a maior bancada e numa grande coligação. Mesmo com ressalvas, detém apoios de importantes organizações e movimentos sociais (CNBB, CONIC CUT, CTB, MLT, MST, UNE, UBES, ANPG, organizações ligadas aos índios, mulheres, quilombolas, etc.). Até mesmo partidos que não fazem parte da chamada “base de apoio” tem manifestado posição contrária ao impeachment “mequetrefe”, tais como a Rede Sustentabilidade de Marina Silva, o PDT, o PSB, o PMB e até mesmo o PSOL.

Ou seja, além de voto na Câmara e no Senado, Dilma possui ampla e combativa base social.

Michel Temer também deve saber muito bem da gravidade, intensidade e extensão da atual crise e que sua superação não se dará por “toque de mágica”, com a simples saída da Presidenta e sua ascensão ao poder.

Assim, caso ouse enveredar pelo caminho trilhado por Judas ou por Silvério dos Reis, a troco de alguns meses “de fama”, certamente colocaria toda sua biografia e trajetória de política no lixo da História. Além disso, deve saber de “cor e salteado” uma frase lapidar do sagaz Leonel Brizola: “A política ama a traição, mas abomina os traidores!”

• Miranda Muniz –
agrônomo, bacharel em direito, oficial de justiça-avaliador federal, dirigente da CTB/MT e presidente do PCdoB de Cuiabá-MT.