Andréia Duavy: Deixem a Dilma governar!

Por * Andréia Duavy

Mulheres

Há uns 6 anos tirei minha carteira de motorista, de primeira, sem nunca ter pego num carro na vida. Depois de pouco tempo já estava rodando Fortaleza, entrando em endereço desconhecido e, bem, não posso dizer que eu sou uma super motorista, mas é fato que nunca levei uma multa ou me envolvi em acidente. Após um tempo, comecei a perceber um comportamento muito desagradável: sempre que eu precisava fazer uma baliza em frente a um bar ou algum local predominantemente masculino, o "público" local parava o que estava fazendo para apostar se eu a faria ou não.

Em um determinado momento, a baliza, que nunca foi minha inimiga, passou a ser evitada ao máximo, porque é claro, eu, humana como sou, sabia que haveria uma chance de não concluí-la bem ou levar mais tempo que o "normal". O simples medo de ser criticada por uma simples baliza me fazia estacionar mais longe, dar mais voltas para achar um local seguro, pagar estacionamento, ou só estacionar entre carros quando a distância era segura ou com alguém fiscalizando.

Um dia, um conhecido me disse que faltava a nós mulheres "um recurso altamente utilizado pelos homens chamado: “tocar o foda-se", e sim, ele tem razão, mas como podemos tocar o foda-se numa sociedade onde ainda hoje tem gente que diz que é feio mulher falar palavrão?

Agora vamos ao objetivo desse texto. Acompanhando as críticas à Presidenta Dilma, que é criticada até por ter escolhido ser chamada de presidentA, imagine dar de cara com a missão de governar um País com 200 milhões de habitantes onde quase a metade são como aqueles homens no bar apostando que ela vai errar?

Imagine governar um País que ensina às mulheres que não errar é ficar em casa, cuidar do marido e dos filhos, e se quiser trabalhar fora, só em profissões femininas e ainda ganhando 30% a menos que os homens, mesmo exercendo a mesma profissão?

Imagina governar um País onde homens ainda batem nas mulheres por acharem que elas são suas e onde a Lei Maria da Penha é considerada privilégio?

Quando vejo as entrevistas de Dilma, ela sempre está cercada por homens, que foram ensinados desde pequenos que o seu papel é o de mandar, e que quando não, foram ensinados a serem "cavalheiros", imagino que em sua maioria eles devem pensar que estão lá por que "bem, a Dilma é mulher né? E por mais durona que possa parecer, precisa de um homem, né?". Aliás "precisar"de um homem? O poder sempre foi ocupado pelos homens e olha o buraco onde a gente veio parar.

– Ah Andreia, mas você está declarando guerra aos homens! Existiram grandes homens na história, blá, blá, blá…

Sim, existiram, existem e admiro muitos deles, mas, mais uma vez, não é sobre os homens, é sobre as mulheres. Deixa a gente protagonizar?

Voltando à nossa Presidenta, sim existem críticas a serem feitas, o Governo Federal tem deixado a desejar em muitos aspectos, mas me parece um pouco misógino que apenas a Dilma, uma mulher que foi torturada, enfrentou a Ditadura Militar, fez faculdade, teve uma filha e um neto, foi Ministra de Minas e Energia, Ministra Chefe da Casa Civil, enfrentou um câncer e se tornou a primeira Presidenta mulher da história do País seja a culpada por todos eles.

Parece-me meio machista considerar motivo de chacota ela gaguejar em discurso, quando a grande maioria morre de medo de apresentar trabalho em faculdade.

Que todos os presidentes homens antes dela tenham praticado as "pedaladas fiscais", inclusive assinadas pelo vice Mimimichel Temer, mas só no governo de uma mulher, descobriram que era errado (isso para não citar a inconstitucionalidade da ação do Impeachment, que bem, daria outras longas linhas…).

A tentativa de Golpe também está ligada àqueles que acham que a política não é coisa de mulher, mas a primavera feminista só começou, e juntas vamos mostrar que a Presidência da República também é nosso lugar.

Ah propósito: estou superando o trauma com as balizas… Acho que estou desenvolvendo esse tal de foda-se. Obrigada feminismo!

Andréia Duavy é estudante de Arquitetura da UFRRJ e Intercambista pelo Ciências sem Fronteiras na École d'Urbanisme de Paris

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