Editor do Le Monde: Impeachment é golpe contra a democracia

Em uma entrevista muita didática sobre a atual conjuntura política e econômica do Brasil, Sílvio Caccia Bava, diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil, afirmou que o pedido de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff é, sim, uma “tentativa de golpe na democracia e pode ser uma pá de cal na avaliação da população do nosso sistema político”.

Sílvio Caccia Bava

Na entrevista concedida ao R7 News, apresentado pelo jornalista Heródoto Barbeiro, Sílvio Caccia Bava enfatiza que “não há um fato concreto” para fundamentar o pedido de impeachment. “Essas pedaladas foram feitas antes no governo Fernando Henrique, no governo Lula e, agora, estão incriminando a presidente Dilma”, destaca.

Ele também aponta a conduta golpista da oposição nesse processo, citando a declaração do “senador Aécio Neves, durante a reunião do DEM, de que eventualmente o PSDB estaria pronto para assumir agora o governo, fora do período de mandato”. Ele lembra que um eventual impeachment não há nenhuma previsão de que Aécio possa assumir o governo.

Bava salienta que a atual crise é resultado de uma ação da presidenta Dilma que irritou o sistema sistema financeiro. “O que estamos assistindo é uma coisa que tem duas vertentes. Uma delas começa em 2011, quando para enfrentar a crise financeira de 2008, a presidenta manda baixar a taxa Selic, que é aquela que remunera os juros da dívida pública. Ela também manda baixar, através da Caixa e do Banco do Brasil, os juros ao consumidor. Além disso, congelou o preço da gasolina e da energia elétrica. Para se ter uma ideia, os bancos públicos ao baixarem esses juros ganharam no mercado o tamanho de um Bradesco. Os bancos públicos passaram a ter 55%s do mercado de crédito ao consumidor. Anos atrás tinham 35%. Isso é intolerável para o sistema financeiro privado”, pontuou.

O editor do Le Monde Diplomatique Brasil destaca que os detentores da dívida pública brasileira em 70%, são do sistema financeiro. “Quando você baixa a taxa Selic, você baixa a remuneração desse sistema financeiro. Isso unificou a elite que tem na cabeça o sistema financeiro, na campanha contra a segunda eleição da presidenta Dilma. E essa briga continua”, afirmou.

E completa: “No fundo, eles estão dizendo o seguinte: quem controla a economia desse país somos nós e não aceitamos outra coisa”.

Baca lembra que a imprensa tem contribuído com essa crise. “A imprensa vai batendo junto e vai criando essa imagem de corrupção, de ineficiência e de falta de gestão, mas muita da responsabilidade disso se deve a esse setor [financeiro] que fez um locaute, parou de investir”, enfatiza.

Por fim, Bava aponta o financiamento de campanha como um dos principais fatores dessa atual conjuntura de crise. “70% da Câmara dos Deputados foi financiada por 10 grandes grupos empresariais. E temos bancadas como a dos bancos, a do agronegócio, a da bala, que os deputados devem fidelidade a quem financiou, não ao seu partido. E esse é o começo da crise que está implodindo o nosso sistema político”, disse ele.

O jornalista afirma ainda que os partidos não têm programa e nem compromisso, “estão aí para negociar vantagens dentro do Congresso”.

“E o presidente da Câmara, o Eduardo Cunha, se aproveitou dessa situação e financiado por algumas empresas ele financiou campanhas de alguns colegas para se elegerem. Ele tem uma bancada própria que é fiel a ele porque ele tem na gaveta os compromissos de financiamento dessa bancada”, denuncia. E conclui: “Esse Congresso está se movendo por fidelidade a compromissos que se desvendados os levariam pra cadeia”.

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