Economista defende redução de juros e uso de reservas cambiais
Diante da proximidade da reunião do Copom, o grupo de especialistas que critica a possibilidade de uma alta na taxa de juros só faz crescer. Em artigo publicado no Diario de Pernambuco, nesta quinta (7), o economista e presidente da consultoria Datamétrica, Alexandre Rands, afirma que uma análise do déficit fiscal brasileiro já indica que subir a Selic não é boa estratégia. Para estimular a economia, ele defende a diminuição do encargo com juros combinada com o uso das reservas cambiais.
Publicado 07/01/2016 14:25
O economista cita que a análise das contas do governo central nos primeiros nove meses de 2015 mostra que as principais fontes de déficit nominal no Brasil são os pagamentos por juros sobre a dívida pública (R$ 340 bilhões) e o déficit da previdência rural (R$ 64 bilhões), pois a previdência urbana estava ainda superavitária em 2015 até setembro (R$ 10 bilhões).
“O Tesouro Nacional, particularmente, também era superavitário (R$ 34 bilhões) nesse período. Isso significa que há dois problemas para serem atacados, que são o déficit da previdência rural e o pagamento de juros sobre a dívida, que é afetado pelo tamanho da dívida pública e pela taxa de juros. De antemão essa análise do déficit fiscal já mostra que aumentar a taxa de juros não é uma boa estratégia no momento”, diz Rands, no texto intitulado "O Brasil tem jeito: A essência do problema fiscal".
Ele ressalta que, se a economia não está em pleno emprego, como agora, o aumento da taxa de juros reduz ainda mais o investimento e os gastos do consumidor, podendo levar a uma diminuição ainda maior da arrecadação do governo, como ocorreu nos últimos meses.
O economista defendeu ainda o uso de reservas cambiais no combate à crise econômica, medida que a presidenta Dilma Rousseff disse nesta quinta não cogitar . No artigo, Rands cita que as reservas internacionais retidas pelo Banco Central atingem mais de US$ 370 bilhões, o que representa algo em torno de R$ 1,5 trilhão.
“Isso representa cerca de 60% da dívida do governo federal fora do Banco Central. Se o Brasil puser no mercado US$ 100 bilhões de nossas reservas, poderíamos reduzir em cerca de 16% a dívida fora do Banco Central. Isso reduziria em cerca de R$ 56 bilhões o pagamento de juros pagos sobre a dívida”, completa.
O presidente do Datamétrica afirma que, além disso, ao utilizar as reservas, o Bacen poderia baixar a Selic para 10%. “Com isso o custo anual de juros para o Tesouro Nacional teria uma redução adicional de R$ 84,5 bilhões, após a venda de reservas previamente sugerida. As duas operações juntas tirariam cerca de R$ 140,5 bilhões do déficit nominal do governo central. Ou seja, o déficit nominal cairia dos atuais 8,3% do PIB para algo como 5,9% do PIB”, computa.
No texto, Rands descarta que a redução das reservas possa criar riscos de crise cambial, lembrando que o Brasil é um dos países com maior nível de reservas do mundo, quando proporcional ao seu PIB. O Brasil possui hoje a sexta maior reserva do mundo.
“A maior parte das reservas atuais foi construída a partir de uma política de evitar desvalorizar a moeda americana por causa de políticas exageradas de elevação das taxas de juros. Elas não foram construídas como estratégia definida para tal. O momento de crise atual e necessidade de redução da taxa de juros é um bom momento para reduzir o ônus dessas reservas excessivas para a população brasileira”, avalia.