Quando o caos e o desespero batem a porta*
Esse é o resumo das últimas notícias que preenchem as páginas dos jornais e os horários mais nobres da televisão. Já faz algum tempo que as pessoas se acostumaram a assistir cenas de violência e o derramamento de sangue ao mesmo tempo em que fazem suas refeições.
Publicado 25/01/2016 11:36 | Editado 04/03/2020 17:06

E o que isso tem a ver com a violência? A violência não nasceu hoje, não tem um remédio para combatê-la e falo sem medo de errar que só nos preocupa pois bateu a nossa porta.
Como representante de esquerda repeti desesperadamente por anos de militância o discurso que o problema da Segurança não é coisa só de polícia, mas de maneira mais abrangente é uma questão social.
A democratização do acesso às políticas públicas de saúde, educação, lazer e renda podem em sua efetivação diminuir as desigualdades e equilibrar a necessidade humana pela obtenção de riqueza e pela acumulação da propriedade.
E o que isso tem a ver com a violência? No entanto, cada um de nós no seu cotidiano se preocupa com seu próprio umbigo, com suas necessidades, seus sonhos e seus dramas e buscam uma felicidade, uma satisfação, material ou transcendental, apenas em função de si mesmo. Quando têm uma família, a preocupação abrange quem está em sua arca e não importa o dilúvio que se encontre lá fora, o importante é proteger os seus.
Debatemos sobre a liberação das armas, não por um debate com preocupação coletiva, mas simplesmente pelo direito individual da autodefesa, sem nenhuma preocupação com a possibilidade do desencadeamento desenfreado de uma matança coletiva de seres humanos, maior do que as vivenciadas atualmente, não importa que o outro morra, importa que eu viva.
E o que isso tem a ver com a violência? Numa sociedade estratificada tenta-se manter o “Status Quo”, a garantia de manutenção do poder pelas mesmas famílias e isso significa mais qualidade e segurança de vida para uns e a luta pela sobrevivência, o sofrimento e escassez para muitos outros.
E o que isso tem a ver com a violência? Como profissional de segurança já me deparei com diversas situações que precisamos colocar o coração na bota, engolir as lágrimas e aplicar a lei, muitas vezes sonegadas, descumpridas e desvirtuadas deliberadamente por uma pequena parcela da sociedade que se beneficia, mas que agora desesperada chora os seus mortos também.
E o que isso tem a ver com a violência? Como representante da Segurança Pública, diversas vezes convocamos essa mesma sociedade para atos públicos em protesto a morte de policiais e dizíamos que quando um policial morre tomba com ele todo o estado e que isso seria um sinal claro da necessidade de uma ação conjunta, de um pacto pela vida, sinal vermelho. Mas um profeta no deserto só é ouvido quando o caos e o desespero batem a porta.
Mas o que isso tem a ver com a violência? Precisamos de respostas, todos nós. Mas precisamos de ser e ter cada um essa resposta. Segurança Pública é um dever do Estado, mas um direito e uma responsabilidade de todos. A sociedade tem sua importante parcela de contribuição e precisa exercitar cada vez mais do processo de planejamento, avaliação e controle na Segurança Pública.
As prefeituras devem interagir e enviar as Câmaras Municipais urgentemente seus planos de Segurança Pública e Defesa Social com autorização para estabelecer convênios com o Governo do Estado para estruturação de Guardas Municipais, remuneração de agentes de segurança, interação de informações e destinação orçamentária municipal para dentro das possibilidades legais de contribuir com o enfrentamento a violência. A Assembleia Legislativa deve liderar um processo de debate e elaboração de legislação no sentido de estabelecer um Plano Estadual Estratégico e Integrado de Segurança Pública com previsão de contingência e enfrentamento com uma efetiva participação social e dos diversos setores governamentais.
O Governo do Estado além de cumprir seu papel constitucional deve incentivar a participação da sociedade, garantir a valorização profissional e promover a execução desses planos de segurança com estrutura e inteligência policial. É necessário instituir um Conselho Estadual de Segurança Pública para planejar e avaliar a Segurança de forma paritária e permanente.
E o que isso tem a ver com a violência? Policiais nas ruas realizando policiamento a pé, rondas ostensivas com motos, duplas nos corredores de ônibus são algumas ações que julgamos necessárias. Sem esquecer as periferias e as ações sociais impactantes, permanentes e articuladas.
Assim como parcerias com o setor privado, com o comércio e o governo podem apontar rumos que possibilitem um adequado enfrentamento. Os limites e as barreiras legais devem ser superados com criatividade e responsabilidade visando a vida e a segurança de nossa sociedade.
E o que isso tem a ver com a violência? De forma nenhuma se mudando gestores mudam-se os resultados, mas uma ação conjunta, articulada e com boa vontade política podem dar as respostas que estamos buscando. A própria indiferença é uma violência, que ceifa vidas e sonhos. Não deixe o caos e o desespero bater a sua porta. Pense nisso!