Quando o caos e o desespero batem a porta*

Esse é o resumo das últimas notícias que preenchem as páginas dos jornais e os horários mais nobres da televisão. Já faz algum tempo que as pessoas se acostumaram a assistir cenas de violência e o derramamento de sangue ao mesmo tempo em que fazem suas refeições.

Jeoas
Faz tempo que as pessoas trocaram uma boa conversa entre amigos com gargalhadas ou lágrimas de verdade pelos emoticons nas pontas dos dedos das redes sociais. Trocam uma boa hora de estudo e pesquisa nas páginas virtuais ou reais pelas correntes bobas e muitas vezes pela maximização da violência.

E o que isso tem a ver com a violência? A violência não nasceu hoje, não tem um remédio para combatê-la e falo sem medo de errar que só nos preocupa pois bateu a nossa porta.

Como representante de esquerda repeti desesperadamente por anos de militância o discurso que o problema da Segurança não é coisa só de polícia, mas de maneira mais abrangente é uma questão social.

A democratização do acesso às políticas públicas de saúde, educação, lazer e renda podem em sua efetivação diminuir as desigualdades e equilibrar a necessidade humana pela obtenção de riqueza e pela acumulação da propriedade.

E o que isso tem a ver com a violência? No entanto, cada um de nós no seu cotidiano se preocupa com seu próprio umbigo, com suas necessidades, seus sonhos e seus dramas e buscam uma felicidade, uma satisfação, material ou transcendental, apenas em função de si mesmo. Quando têm uma família, a preocupação abrange quem está em sua arca e não importa o dilúvio que se encontre lá fora, o importante é proteger os seus.

Debatemos sobre a liberação das armas, não por um debate com preocupação coletiva, mas simplesmente pelo direito individual da autodefesa, sem nenhuma preocupação com a possibilidade do desencadeamento desenfreado de uma matança coletiva de seres humanos, maior do que as vivenciadas atualmente, não importa que o outro morra, importa que eu viva.

E o que isso tem a ver com a violência? Numa sociedade estratificada tenta-se manter o “Status Quo”, a garantia de manutenção do poder pelas mesmas famílias e isso significa mais qualidade e segurança de vida para uns e a luta pela sobrevivência, o sofrimento e escassez para muitos outros.

E o que isso tem a ver com a violência? Como profissional de segurança já me deparei com diversas situações que precisamos colocar o coração na bota, engolir as lágrimas e aplicar a lei, muitas vezes sonegadas, descumpridas e desvirtuadas deliberadamente por uma pequena parcela da sociedade que se beneficia, mas que agora desesperada chora os seus mortos também.

E o que isso tem a ver com a violência? Como representante da Segurança Pública, diversas vezes convocamos essa mesma sociedade para atos públicos em protesto a morte de policiais e dizíamos que quando um policial morre tomba com ele todo o estado e que isso seria um sinal claro da necessidade de uma ação conjunta, de um pacto pela vida, sinal vermelho. Mas um profeta no deserto só é ouvido quando o caos e o desespero batem a porta.

Mas o que isso tem a ver com a violência? Precisamos de respostas, todos nós. Mas precisamos de ser e ter cada um essa resposta. Segurança Pública é um dever do Estado, mas um direito e uma responsabilidade de todos. A sociedade tem sua importante parcela de contribuição e precisa exercitar cada vez mais do processo de planejamento, avaliação e controle na Segurança Pública.

As prefeituras devem interagir e enviar as Câmaras Municipais urgentemente seus planos de Segurança Pública e Defesa Social com autorização para estabelecer convênios com o Governo do Estado para estruturação de Guardas Municipais, remuneração de agentes de segurança, interação de informações e destinação orçamentária municipal para dentro das possibilidades legais de contribuir com o enfrentamento a violência. A Assembleia Legislativa deve liderar um processo de debate e elaboração de legislação no sentido de estabelecer um Plano Estadual Estratégico e Integrado de Segurança Pública com previsão de contingência e enfrentamento com uma efetiva participação social e dos diversos setores governamentais.

O Governo do Estado além de cumprir seu papel constitucional deve incentivar a participação da sociedade, garantir a valorização profissional e promover a execução desses planos de segurança com estrutura e inteligência policial. É necessário instituir um Conselho Estadual de Segurança Pública para planejar e avaliar a Segurança de forma paritária e permanente.

E o que isso tem a ver com a violência? Policiais nas ruas realizando policiamento a pé, rondas ostensivas com motos, duplas nos corredores de ônibus são algumas ações que julgamos necessárias. Sem esquecer as periferias e as ações sociais impactantes, permanentes e articuladas.

Assim como parcerias com o setor privado, com o comércio e o governo podem apontar rumos que possibilitem um adequado enfrentamento. Os limites e as barreiras legais devem ser superados com criatividade e responsabilidade visando a vida e a segurança de nossa sociedade.

E o que isso tem a ver com a violência? De forma nenhuma se mudando gestores mudam-se os resultados, mas uma ação conjunta, articulada e com boa vontade política podem dar as respostas que estamos buscando. A própria indiferença é uma violência, que ceifa vidas e sonhos. Não deixe o caos e o desespero bater a sua porta. Pense nisso!
 

Cabo Jeoás é Policial Militar do RN e Vereador de Natal pelo PCdoB.