Preso político nos EUA lia para manter sanidade

Albert Woodfox deixou nesta sexta-feira (19/02) a prisão onde esteve encarcerado em uma solitária por 45 anos nos Estados Unidos, o que fez dele a pessoa que mais tempo ficou nesse tempo de confinamento no país. O ativista dos direitos dos negros deixou detenção no dia em que completou 69 anos.

Albert Woodfox

Woodfox é o último dos chamados "três de Angola" – em referência ao nome do estabelecimento prisional onde estava – a ser libertado. Ele integrava o Panteras Negras, organização que militava pela defesa dos negros contra o racismo e a violência policial.

Woodfox afirmou nesta segunda-feira (22) que, durante o tempo em que permaneceu preso, a leitura era um modo de “permanecer conectado com o mundo exterior” e essa conexão era única forma de não perder a sanidade. Woodfox fez a declaração à emissora da organização norte-americana de direitos civis Democracy Now!, na primeira entrevista que deu a um canal de televisão ou rádio após sair da prisão.

“[Ler] era uma das ferramentas que nós usávamos para permanecer focados e conectados com o mundo exterior”, disse Woodfox, ao ser perguntado se ler era permitido durante a detenção. Ele especificou que costumava ler “livros de história e sobre Malcolm X”, além de obras de Martin Luther King, Frantz Fanon e James Baldwin.

Três de Angola

Em junho do ano passado, o juiz federal James Brady ordenara que Woodfox fosse libertado imediatamente e vetou um novo julgamento pelas acusações de suposto assassinato do guarda prisional Brent Miller.

Ainda assim, o Estado da Louisiana entrou com recurso e o ativista continuou preso. "Nada vai reparar verdadeiramente o confinamento solitário cruel, desumano e degradante ao qual o Estado da Louisiana o submeteu", afirmou Jasmine Heiss, da Anistia Internacional.

Os três Panteras Negras foram detidos em 1971, acusados de um assalto à mão armada e foram levados para o Estabelecimento Prisional do estado do Louisiana — a maior prisão de segurança máxima dos EUA, conhecida como Angola, em referência a uma antiga plantação para onde os escravizados eram levados no século 19. Eles sempre desmentiram as acusações.

Meses depois, Woodfox e Wallace foram acusados, julgados e condenados pelo homicídio do guarda prisional Brent Miller e enviados para a solitária. King, por sua vez, foi acusado de estar envolvido na morte do guarda, mas não foi julgado; foi condenado pela morte de outro detento. King e Wallace foram soltos, respectivamente, em 2001 e 2013. Wallace morreu poucos dias após deixar a prisão.

Apesar das condenações, eles sempre negaram envolvimento nas mortes. Integrantes do Panteras Negras — movimento em defesa dos direitos dos negros e contra a violência policial — eles afirmaram durante todo o tempo em que estiveram detidos que foram colocados na solitária por lutarem por melhores condições de vida na prisão.