IstoÉ segue Veja e insufla golpe midiático

Após a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que transformou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em réu na Lava Jato, mais uma vez a mídia golpista forja uma capa “bomba”. A revista IstoÉ seguiu o repertório mentiroso da Veja nas eleições de 2014 e adiantou a edição, que normalmente circula aos sábados, para esta quinta (3), com matéria que insufla o golpe contra a democracia.

Por Dayane Santos

facebook IstoÉ - Reprodução

Assim como a Veja, o conteúdo “bombástico” desta matéria não passa da estratégia manjada de factoide para atacar o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma Rousseff. A revista afirma ter tido acesso ao depoimento feito pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS), pouco antes de deixar a prisão, em 19 de fevereiro.

“Revelações do senador à força-tarefa da Lava Jato, obtidas por IstoÉ, complicam de vez a situação da presidente Dilma e comprometem Lula”, diz a jornalista Débora Bergamasco, que assina o texto publicado pela revista. Segundo o semanário, o documento chamado por eles de “explosivo” continha todas as respostas que a direita golpista gostaria de ter ouvido dos delatores e não conseguiu: Dilma e Lula saberiam do esquema de corrupção da Petrobras e teriam tentado interferir nas investigações da Lava Jato. Ainda, como uma espécie de relato do fim do mundo, traz elementos sobre casos como Pasadena e mensalão, tudo “com extraordinária riqueza de detalhes”, disse a autora do texto.

Apesar das frases de efeito da revista, alguns pontos chamam a atenção. Todas as afirmações atribuídas ao senador Delcídio no dito depoimento citado pela revista são uma descrição feita por uma terceira pessoa. Isso causa estranheza: num documento de 400 páginas a redatora pinçou somente os trechos descritos por terceiros e não tenha nenhuma frase que seja resultado da transcrição literal do depoimento do senador.

Essa não é uma questão lateral. Recentemente, investigados da Lava Jato acusaram a força-tarefa de manipular a transcrição de depoimentos. Foi o caso apontado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa sobre Marcelo Odebrecht, em que a defesa do empreiteiro indicou divergências grosseiras entre um dos vídeos gravados por Costa à força-tarefa da Lava Jato em 3 de setembro de 2014 e o termo de colaboração que contém a transcrição do depoimento.

Mas ainda que o depoimento tenha de fato ocorrido, o semanário se esforçou em transformar as afirmações do senador em prova contundente e com fundamento jurídico para garantir o golpe contra a democracia.

Delcídio foi preso por ter sido flagrado, em gravação de conversa com Bernardo, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, dizendo que poderia influenciar os votos de vários dos ministros do STF.

Sem apresentar provas das graves afirmações, a publicação segue a tese do juiz Sergio Moro que, em artigo publicado em 2004, intitulado “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”, afirma que o “largo uso da imprensa” permitiu a “deslegitimação do sistema político” e a “construção de uma imagem positiva dos juízes”.

Isso explica os sistemáticos vazamentos de depoimentos por parte da força-tarefa da Lava Jato, comandada por Moro, tornando o processo de investigação um espetáculo midiático. Moro afirmou no artigo que a aliança com a “opinião pública pode constituir um salutar substitutivo, tendo condições melhores de impor algumas espécies de punição a agentes públicos corruptos, condenando-os ao ostracismo”.

A proposta é transformar o Estado Democrático de Direito em um Estado onde se abre mão do devido processo legal, do direito de defesa e da presunção da inocência. Assim, os juízes se transformam em heróis e a mídia, em tribunal que julga e sentencia.

Enquanto isso, a oposição correu para a tribuna para tentar surfar no factoide, defendendo o impeachment e buscando insuflar o ato pró-golpe que convocam para o dia 13 próximo.

Eduardo Cunha, que passou a ser réu no processo da Lava Jato após decisão do STF nesta quarta (3), comentou em tom irônico: “Delação nos olhos dos outros é pimenta”. Considerado peça-chave para manobrar em direção ao golpe contra o mandato da presidenta Dilma, Cunha não escondeu a sua satisfação com a publicação.