Procuradores não têm provas contra Lula, apenas espetáculo midiático

Em coletiva de imprensa, apesar de questionados, os representantes da força-tarefa da 24ª fase da Operação Lava Jato não conseguiram apontar as provas que teriam contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento nesta sexta-feira (3), evidenciando que se trata de mais um espetáculo midiático.

Por Dayane Santos

Carlos Fernando Lima promotor da Lava Jato

A principal argumentação da investigação se baseia no fato de que os ex-presidente Lula recebeu pagamentos por palestras por parte de empreiteiras via Instituto Lula. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima fez questão de dizer durante entrevista, mesmo não sendo questionado, que “o valor das palestras era superior ao cobrado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”.

O comentário do procurador evidencia o pensamento elitista. Como um nordestino, metalúrgico, sindicalista e ex-presidente da República pode ganhar mais em palestras do que o ex-presidente FHC, sociólogo da Sorbonne? Mas elitismo à parte, é notório que FHC, desde que deixou o Palácio do Planalto, fatura com palestras. Somente no primeiro ano após deixar o governo, o tucano faturou cerca de R$ 3 milhões dando palestras para empresas no Brasil e no exterior, inclusive de empreiteiras investigadas.

No ano passado, o próprio FHC afirmou que seu instituto, o iFHC, também recebeu recursos de empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato, como a Odebrecht e a Andrade Gutierrez. Em apenas um ano, a Odebrecht, por exemplo, pagou quase R$ 1 milhão ao instituto do tucano, com doações mensais. Mas isso não levantou suspeitas por parte dos investigadores.

Ainda de acordo com os procuradores, 60% dos pagamentos por palestras, entre 2011 e 2014, foram provenientes de empreiteiras. Apesar de dizer que há “provas irredutíveis”, os investigadores dizem que querem saber se os recursos vieram de desvios da Petrobras. “Os favores são muitos e são difíceis de quantificar”, disse o procurador.

Politizando o discurso, o procurador afirmou: “O governo dele foi um dos beneficiados pela compra do apoio político e partidário. Estamos investigando o papel dele”. Mas de acordo com ele, a operação não tem “nenhuma motivação política”. “Somos republicanos”, completou.

Outro ponto destacado como suspeito pela Lava Jato foram os pedalinhos do sítio. O procurador admitiu que a investigação da suposta compra de pedalinhos para o sítio em Atibaia (SP) e das ditas obras que teriam sido feitas pela Odebrecht começaram a ser feitas a partir da divulgação da imprensa.

Segundo eles, apesar da vasta apresentação de documentos feita por Lula, demonstrando que o apartamento no Guarujá não é dele, “várias provas dizem o contrário”. As provas, segundo o MPF de Curitiba, são depoimentos colhidos pelos investigadores, ou seja, não há sequer um documento que consiga contestar as provas apresentadas por Lula.

O comando da Lava Jato também revelou na coletiva que sabe que tal violência cometida contra o presidente mais bem avaliado da história do país provocaria uma reação popular. O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que não quis marcar um depoimento com antecedência para evitar manifestações.

“Não havia como não fazer a oitiva. Se tivéssemos marcado com antecedência, teríamos um risco maior de segurança”, disse Santos Lima.

Em nota, o Instituto Lula classificou como “arbitrária, ilegal e injustificável” a ação da PF. “A violência praticada hoje contra o ex-presidente Lula e sua família, contra o Instituto Lula, a ex-deputada Clara Ant e outros cidadãos ligados ao ex-presidente, é uma agressão ao Estado de Direito que atinge toda sociedade brasileira. A ação da chamada força-tarefa da Lava Jato é arbitrária, ilegal, e injustificável, além de constituir grave afronta ao Supremo Tribunal Federal”, diz o texto divulgado pelo instituto que representa o ex-presidente.

Em outro trecho da nota, o Instituto Lula diz que o resultado da “violência” desencadeada nesta sexta pela Operação Lava Jato é “submeter o ex-presidente a um constrangimento público”. “Não é a credibilidade de Lula, mas da Operação Lava Jato que fica comprometida, quando seus dirigentes voltam-se para um alvo político sob os mais frágeis pretextos”, diz a nota.