Karine Huet, a sanfoneira francesa que encontrou liberdade no chorinho

Kaine Huet é encantadora em sua música e em sua fala. Como é de praxe no jornalismo desses tempos, entramos em contato com ela pela internet, para saber que história foi essa de vir ao Brasil sozinha – apenas ela e a sua sanfona – para ouvir Forró. Prontamente ela nos respondeu, com muito carinho, em um “portucês” (o portunhol adaptado para o francês) para contar como a música brasileira foi influenciar sua vida lá na França.

Por Mariana Serafini

Karine Huet - Forró Paris

Pelo que Karine conta, ela não aprendeu, mas foi encantada pela música ainda criança. “Eu tinha uns 7, 8 anos e vi um menino tocar sanfona, desde então a música faz parte da minha vida”. Segundo ela, o acordeão é um instrumento muito utilizado em sua região, a Bretanha, e desde pequena ela toca o instrumento, nos ritmos franceses.

Já adulta, com 26 anos, um amigo a presentou com um CD de Forró que tinha comprado em uma viagem de férias no Brasil. Foi amor à primeira música. “Como eu não sabia que se usava sanfona no Brasil eu fiquei muito feliz de ouvir”. Junto com o presente, veio a proposta de começar a tocar música brasileira na França. Mas Karine não era lá uma especialista nos ritmos tupiniquins.

“Não tinha o Youtube, era muito difícil ouvir sobre Forró, foi tão difícil que eu pensei em praticar um pouquinho e viajar para o Brasil”. Foi assim que Karine atravessou o oceano Atlântico para descobrir como era essa tal história de existirem sanfoneiros por aqui. “Viajei sozinha, só com minha sanfona”. Ela ficou no Brasil muito mais tempo do que esperava, chegou em 2003 e só voltou em 2005.

Neste período conheceu o Nordeste e se encantou pela gente e pela música. Mas conta com orgulho o dia que Dominguinhos tocou sua sanfona. “Foi maravilhoso, ele experimentou tocar com a minha sanfona que é diferente da dele, porque tem teclado ponto, não o teclado piano. Foi maravilhoso!”.

Quando voltou à França, o Yutube já fazia sucesso na internet, e a sanfoneira apaixonada por Forró passou a ter contato com o Chorinho. “Criei uma roda de Choro na minha cidade, já dura quase dez anos. Foi muito, muito difícil aprender o Chorinho, mas já foi mais fácil ouvir tudo do Jacob do Bandolim, Pixinguinha, Kaximbinho…”.

O Choro mudou a forma como Karine via a música até então. Apesar de já ser uma musicista renomada e tocar com muitos músicos na França, ela se redescobriu com a música brasileira. “Acho que agora eu sou mais livre porque quanto mais você conhece, mais você é livre, porque música é universal”.

Depois que passou a tocar Choro profissionalmente, começou a divulgar o ritmo, junto com o Forró, por toda a França. Hoje um é mais presente na vida e outro no trabalho: Karine diz ouvir Choro “o tempo todo” e toca Forró cerca de duas vezes por semana em Paris porque há muitas oportunidades. “Agora toda minha música profissional é brasileira porque todo mundo sabe que sou apaixonada”.

Sem dúvida o Brasil foi o divisor de águas na vida e na música de Karine. “Não é a mesma vida porque encontrei muitos músicos brasileiros e agora minha referência musical é outra. Todos os sanfoneiros brasileiros fazem parte das minhas referências agora”. Chorinho é o que mais toca nos fones da francesa porque, segundo ela, “ouvir a criatividade dos músicos brasileiros é incrível”.

Ouça as canções de Karine: 

*Esta reportagem contou com a colaboração de Railídia Carvalho e Pierre Carrié