Campelo Costa: Aos amigos bons do meu Brasil

Por *Campelo Costa

manifestação pela democracia

O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) é uma instituição pública de direito privado. Sempre defendeu princípios, dentre eles o compromisso com seus associados, com os poderes públicos, com a sociedade brasileira e fundamentalmente com a defesa da liberdade e da democracia. Foi assim ao longo de uma história de quase um século.

O IAB assim procede imbuído da ideia de que os arquitetos, enquanto intelectuais organizados em profissão, "têm uma responsabilidade ineludível" na defesa dos valores que o trabalho cotidiano do homem brasileiro produz, sejam aqueles legados pelo trabalho pretérito, sejam aqueles que antecipam seu futuro social face à pressão dos interesses imediatistas e intenções políticas inconfessáveis e retrógradas.

Instituição situada fora do centro de decisão e poder, cabe ao IAB afirmar que seu compromisso maior consiste, hoje, em promover, na medida das suas possibilidades, a circulação de informações sobre arquitetura brasileira – como questão cultural e política – assim como realizar o mais amplo e livre debate a fim de que do confronto das ideias e opiniões surjam perspectivas e proposições políticas válidas para o Pais.

Agora calar, nunca. E quedar-se em cima do muro, também não.

Compreendo que só a pressão da opinião pública, devidamente esclarecida e organizada, dará respaldo a um processo de reformulação política capaz de assegurar a participação popular efetiva que a realidade brasileira requer e o momento atual impõe.

A participação efetiva do IAB se dará na medida em que os arquitetos se mobilizem ao lado de instituições públicas e privadas, dos movimentos sociais, das populações que buscam melhores condições de vida e a ampliação dos movimentos em defesa da democracia e do desenvolvimento do Brasil.

Nesse momento grave da vida nacional, o IAB não pode se calar. Deve manifestar seu veemente repúdio às manipulações midiáticas que incendeiam o País; ao comprometimento político e deliberado de princípios jurídicos de setores do judiciário de injustificável parcialidade – rasgando o véu e cuspindo no que assegura a Constituição Brasileira – em favor da desestabilização do governo e na perspectiva do golpe.

O IAB também deve assumir o seu compromisso com a paz… Com a paz entre nós, os brasileiros.

No meu entendimento a busca da paz torna-se hoje indispensável propósito face ao caráter global e devastador de uma crise que tem gerado incontáveis conflitos em todos os quadrantes desse vasto mundo.

É também requisito para o IAB resistir às pressões e intimidações desencadeadas por setores espúrios da sociedade Brasileira, evidenciadas nas manifestações odiosas da intolerância, da violência e do retorno fascista a um conservadorismo perverso que empobrece e avilta o espaço da convivência democrática e o respeito aos direitos civis.

Pois bem, confesso aos amigos que em momentos difíceis nos quais vivemos hoje, acostumei -me a reler alguns autores e obras que me comovem.

Nesses últimos dias reli uma coletânea de contos do Mikhail Sholokhow – "Sangue Estranho" – que retrata os conflitos à margem do DON entre os Russos na Guerra Civil. Dias conturbados que se seguiram a grande revolução das massas russas. Lá correu sangue sujo de ambos os lados, bravuras sem limites, traições e a agonia da morte em todos os rincões da estepe russa.

Os tipos e as cenas que ele descreveu são pungente na sua crueza histórica. Em seu discurso na entrega do prêmio Nobel – 1965, ele diz: "Gostaria que meus livros ajudassem as pessoas a se tornarem de coração melhor e mais puro, ao acordar neles o amor pelos homens, o dever de entrar ativamente na luta pelos ideais do humanismo e do progresso humano".

Aos amigos bons, eu na minha pequenez e cá com meus botões, reafirmo os princípios que sempre defendi: a liberdade e independência dos meus compromissos.

Não serão a Polícia Federal nem um punhado de procuradores e um juiz que me ensinarão, ou melhor, me darão lições de democracia; para tanto a Constituição me garante.

E a luta? … Ora, a luta continua.

*Campelo Costa é Conselheiro vitalício do IAB

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