Bolsonaro convoca a “sitiar o Congresso” e pode ser punido

A mesa diretora da Câmara dos Deputados recebeu de vários parlamentares pedidos de envio formal do discurso feito pelo deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), terça-feira (22), no plenário, em que ele conclama bombeiros e policiais militares a estar no Congresso no dia da votação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. 

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Além dos deputados, a Polícia Legislativa também recebeu a cópia do discurso. Alguns avaliam a possibilidade de pedir medidas contra o parlamentar.

Eles também vão avaliar se há necessidade de reforço na segurança durante a sessão que votará o processo de impeachment, provavelmente em abril. As declarações podem ser usadas para possível representação a ser feita contra o deputado no Conselho de Ética.

Os profissionais faziam evento de mobilização contra um projeto de lei que altera normas para as duas categorias, quando Bolsonaro tomou a palavra: “No dia da votação do impeachment aqui, no final de abril, vocês todos têm que sitiar o Congresso Nacional e botar lá fora 50 mil pessoas ou mais! Aquele parlamentar que, porventura, não votar pela saída dessa impostora e corrupta, Dilma Rousseff, vai ter problemas para sair do Congresso. Então, estejam todos aqui no final de abril para votar o impeachment de Dilma Rousseff!”, disse.

O discurso levou a várias contestações, marcando mais uma confusão envolvendo o deputado, que foi confrontado de imediato pelos colegas Carlos Zarattini (PT-SP) e Sílvio Costa (PTdoB-PE). As bancadas que compõem a base aliada do governo ficaram de analisar o caso na próxima semana, inclusive a possibilidade de serem tomadas medidas contra Bolsonaro.

“Incitar a violência nestes tempos de crise é uma coisa que me preocupa muito e mostra o caráter fascista de algumas pessoas. Não nos calaremos, mas iremos analisar as providências a serem tomadas em relação a isso”, disse Zarattini.

Costa teve um bate-boca acalorado com Bolsonaro logo depois do discurso, e o chamou de fascista: “Eu não perco de você na palavra, já que sei que na tortura você ganha”. “Vamos avaliar providências a serem tomadas, mas todos conhecem os procedimentos deste sujeito. Ele tem que ser combatido assim, de imediato, na palavra, conforme fizemos”, ressaltou.

Segundo vários parlamentares que acompanharam de perto o episódio, esta não será a primeira nem a última arbitrariedade a ser cometida pelo deputado, mas mesmo levando o caso para possível punição, há um entendimento entre as bancadas aliadas do governo de que é preciso evitar perder o foco dos trabalhos da Câmara na comissão que aprecia o pedido de impeachment, porque é essa a estratégia de Bolsonaro. Esses parlamentares também vão estudar se entram com mais um pedido de abertura de representação contra ele no Conselho de Ética, porque temem que o pedido pode ser usado pelo grupo de aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como mais um pretexto para protelar ainda mais a investigação contra Cunha no órgão.

“O mais importante mesmo é reforçar a segurança da Casa para o dia da votação do impeachment, porque sabemos que grupos da direita estão se organizando para virem até aqui”, afirmou um parlamentar da Rede – que não se posiciona favoravelmente ao impeachment, mesmo integrando legenda que defende o afastamento da chapa Dilma-Temer de 2014 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Não temos medo e sabemos que há uma participação popular grande de movimentos sociais diversos contra o golpe, como foi observado na última terça-feira com a entrega do manifesto pela legalidade no país à presidenta, no Palácio do Planalto. Mas precisamos evitar entrar no jogo de pessoas como o Bolsonaro e, principalmente, evitar a incitação ao ódio e a violência nas ruas”, disse o parlamentar.

A assessoria de imprensa de Bolsonaro, ao ser procurada pela reportagem da RBA, disse que o deputado usou “uma força de expressão” ao se manifestar.