Ouça: Temer vaza áudio de seu ensaio golpista
Pelo jeito, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) evoluiu rápido nos métodos de comunicação. Depois de se transformar em piada nacional, em dezembro do ano passado, ao vazar a carta “golpe”, disfarçada de desabafo que enviou à presidenta Dilma Rousseff, poucos dias após a abertura do rito de impeachment aceito pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele vazou agora uma mensgem de golpe em áudio.
Publicado 11/04/2016 16:35
Na mensagem, Temer fala como se a presidente Dilma Rousseff já tivesse sido afastada pela Câmara dos Deputados. Segundo a assessoria, o vice, comandante do golpe contra a democracia, enviou "por acidente" aos aliados.
"Trata-se de um exercício que o vice estava fazendo em seu celular e que foi enviado acidentalmente para a bancada", diz sua assessoria. A sua assessoria de imprensa diz ainda que, o áudio é um "ensaio" para o caso de o impeachment vir a ser aprovado na Câmara, mas acabou divulgada "sem querer" para um grupo de Whatsapp.
No áudio, Temer faz de conta de fala à Nação após o golpe. Diz que se recolheu o "quanto pode" para "não aparentar que estaria comentendo algum ato com vistas a ocupar o lugar da senhora presidente da Republica", mas quando "a Câmara dos Deputados decide, por uma votação significativa" pelo afastamento de Dilma – que ainda não aconteceu -, ele decidiu dar uma "palavra preliminar ao povo brasileiro". Diz que faz isso com "muita modestia, cautela e moderação".
Ele continua dizendo que tem a grande "missão, a partir deste momento, é a pacificação do país, a reunificação do país, é o que eu repito, o que venho pregando, como responsável por uma parcela da vida pública nacional". "Devo dizer também que isso fica para – aconteça o que acontecer no futuro – um governo de salvação nacional e união nacional", disse ele. Salvar quem? Eduardo Cunha?
Temer diz que "sem sacrifícios, não conseguiremos avançar para retomar o crescimento e o desenvolvimento". No entanto, ele prega a valorização do capital privado e afirma que, na gestão da presidente Dilma o Brasil teria passado a sofrer "descrédito internacional", o que teria contribuído para a alta da inflação.
No pronunciamento, o vice também afirma que não serão extintos programas como o Bolsa-Família, o Fies e o ProUni. Segundo Temer, boatos sofre o fim dos programas fazem parte de uma "política mais rasteira". Disso, pelo que demonstra, ele entende.
"A governança vem com o apoio político. A governabilidade exige que haja uma aprovação popular do próprio governo. A classe política unida com o povo levará ao crescimento do País e ao apoio ao governo", disse Temer, falando como se já estivesse prestes a sentar na cadeira presidencial.
Por analogia, Temer reedita a conduta do tucano FHC, que no dia 14 de novembro de 1985, sentou na cadeira de prefeito de São Paulo para posar para fotos na véspera da eleição. Ele disputava a vaga com o ex-presidente Jânio Quadros. Jânio venceu no voto e, ao assumir, desinfetou a cadeira alegando que “nádegas indevidas a usaram''.