Aécio exige Temer-fantoche

Em entrevista publicada hoje, 13, no Valor Econômico, Aécio Neves esnoba Michel Temer, e despeja arrogância sobre ele, ao dizer que não seria fácil assegurar governabilidade a um presidente “sem voto”. 

Por Adalberto Monteiro*

Aecio Neves Michel Temer

Deu-lhe uma “bronca” pelo vazamento do discurso antecipado de posse. E elencou suas exigências, em tom de ultimatum. Dessa entrevista, tira-se que os tucanos exigem de Temer a condição de fantoche, de mero instrumento do golpe, em troca do apoio do PSDB.

A primeira cláusula que ataria Temer a um cabresto curto de Aécio é a de que Temer não se candidate à reeleição. O tucano diz que Temer já teria aceito isto e, como prova, apresentaria uma emenda extinguindo a reeleição.

Desse modo se entende a alcunha que os tucanos estão dando a um pretenso governo imposto pelo golpe, que seria, no linguajar deles, um “governo de transição”. Transição a quê? Na ambição de Aécio, um mero rito de passagem, um biombo, à vitória da direita neoliberal em 2018, embora as pesquisas de intenção de voto, hoje, não confirmem essa obsessiva pretensão.

As demais cláusulas, na verdade, se resumem em uma só: Temer, se entronizado pelo golpe, deveria dar início ao movimento de regresso ao receituário neoliberal. E citou explicitamente a reforma da previdência. Em relação ao fim do reajuste real do salário-mínimo e ao seu vínculo com o piso da Previdência, disse que essa medida seria para um governo eleito, isto é, para um governo Aécio. O tucano exige também o fim, na prática, da liberdade de organização partidária e que Temer, em nome do PMDB, renuncie a qualquer pretensão à presidência da Câmara dos Deputados.

Em relação à Operação Lava Jato, Aécio já começa a manobrá-la, com muito negaceio, e somente agora diz que as delações premiadas deveriam ser acompanhadas de algum tipo de prova. Muito, matreiramente, com isso parece sinalizar algo a quem interessar possa.

A entrevista de Aécio é didática. Um pretenso governo ilegítimo de Temer, sem voto, sem autoridade alguma, ficaria à mercê das chantagens e das imposições do PSDB, de Aécio, Cunha, Caiado, Paulinho da Força et caterva. Em vez de governo de “salvação nacional” seria um governo de vergonha e traição nacional. Em vez de superar a crise, ele a agravaria.

Adalberto Monteiro, membro da direção nacional do PCdoB, editor da revista Princípios e secretário-geral da Fundação Maurício Grabois.