Publicado 16/04/2016 14:57
Tejucupapo, Pernambuco – encenação anual da batalha contra o invasor holandês
Pimenta e agua quente – foi com armas simples – e domésticas, pode-se dizer – que as mulheres do Tejucupapo resistiram e derrotaram a tropa holandesa que invadiu seu povoado, faz 370 anos.
Elas lutavam em defesa de suas casas, filhos e famílias, com a coragem que sempre caracterizou a mulher brasileira.
O ano era 1646 e a ocupação holandesa de Pernambuco e dos estados do Nordeste já durava desde 1630, e seria derrotada finalmente em 1654, pelo grande esforço brasileiro que uniu colonos portugueses, os índios de Felipe Camarão e os negros de Henrique Dias. A eles devem ser acrescentados as mulheres lideradas por Maria Camarão, Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina, que dirigiram a resistência em Tejucupapo e conquistaram, na luta, o direito de fazer parte do panteão dos heróis brasileiros.
Os holandeses estavam sob cerco em Recife, e precisavam urgentemente de víveres. No dia 24 de abril de 1646 uma tropa de 600 soldados, comandada pelo almirante Lichthant, saiu do forte Orange, na ilha de Itamaracá. E investiu contra o povoado de Tejucupapo, ao norte de Recife, em busca de farinha de mandioca e de caju, que seria remédio para o escorbuto que atingia a tropa invasora.
Para atacar, escolheram um domingo, dia em que os homens da localidade estariam em Recife, participando da feira onde vendiam seus pescados. E a vila, esperavam, estaria desguarnecida. Ali estariam apenas mulheres, crianças e idosos.
Mas que mulheres! Mulheres irredentas, que não recuavam ante obstáculos, mesmo guerreiros.
A notícia da movimentação da tropa inimiga chegou rápido à aldeia onde, rapidamente, elas organizaram a defesa mobilizando a população, os poucos homens que lá ficaram, as mulheres e até as crianças. Cavaram trincheiras, juntaram tudo o que pudesse ser usado como arma – paus, pedras, algumas armas de fogo, a pimenta e a água fervente referidas. Armaram emboscadas contra os atacantes, que surpreenderam principalmente por usar uma arma inesperada – jogavam pimenta em seus olhos. No final, a batalha teve 300 mortos, principalmente invasores. E a vitória foi das heroínas de Tejucupapo.
Este foi talvez a primeira batalha importante, em solo brasileiro, com a participação principalmente de mulheres.
Foi a essa batalha que a dirigente comunista Luciana Santos se referiu em seu pronunciamento contra o golpe em andamento contra a presidenta Dilma Rousseff. Ela as alinhou na mesma lista de heroínas da qual fazem parte Anita Garibaldi, Olga Benário – e tantas outras que se destacaram na luta pela democracia e pela soberania nacional.
O heroísmo das mulheres de Tejucupapo é lembrado, naquele distrito do município de Goiana, por um obelisco instalado pelo Instituto Arqueológico, cuja placa comemorativa diz: “Aqui, em 1646; as mulheres de Tejucupapo conquistaram o tratamento de heroínas por terem com as armas, ao lado dos maridos, filhos e irmãos, repelido 600 holandeses que recuaram derrotados. Memória do Instituto Arqueológico em 1931”.
O feito heroico daquelas mulheres está também registrado em livros e filmes. Entre os filmes, destacam-se "Tejucupapo" e "Epopeia da Heroínas de Tejucupapo".
Entre os livros pode-se lembrar Olhos de fogo (2011) de Helena Gomes e Kathia Brienza. E o romance Mulheres de Tijucupapo (1983) de Marilene Felinto, vencedor naquele ano do Prêmio Jabuti de escritora-Revelação.
Finalmente, naquele sítio histórico é realizada anualmente, desde 1995, a encenação "Heroínas de Tejucupapo”, sempre no último domingo de abril. Relata, em autêntica aula de história, o feito daquelas heroínas. A encenação ocorre no mesmo local onde aconteceu a batalha, faz 370 anos – no Monte das Trincheiras, naquela localidade. O espetáculo acontece sempre no último domingo de abril, e é uma iniciativa do Clube de Mães local.