Campelo Costa: Aos amigos bons do meu Brasil

Por *Campelo Costa

manifestação bandeira do brasil

17 de abril de 2016 entrará para a história da república brasileira como o dia da vergonha nacional. Pelo que se viu e se ouviu na Câmara dos Deputados será necessário razoável quantidade de trabalho de adivinhação em qualquer tentativa de se antever o que acontecerá às instituições públicas brasileiras.

Assisti ao desfecho da sessão do pedido de impedimento da Presidenta da República, episódio vergonhoso e desmoralizador do Poder Legislativo. Assisti ali, defronte a Reitoria da Universidade Federal do Ceará palco da resistência e das grandes manifestações de outrora contra a ditadura militar de 1964.

Ali, entre milhares de pessoas amigas e solidárias senti-me solitário e triste… Como se estivesse perdido num momento paralisante da história. Senti vontade de gritar e gritei de revolta contra aquele escárnio, mais não pude encontrar consolo, nem mesmo no pensamento de que aquele dia, aquele episódio e muitos outros gestos se transformariam em breve fragmentos deixados pelo tempo. Haverá outros…

Apesar dessa tristeza reafirmo o meu engajamento irrevogável em defesa das liberdades civis, da democracia e contra o golpe. A "ópera buffa" montada e encenada pelo Presidente da Câmara e acólitos. Aquela estarrecedora demonstração de vingança, oportunismo e revanchismo político aconteceu sob o luzir da soberba cúpula que acolhe o santuário de nossas representações políticas. Revelou e constituiu um desfile em fileira de paspalhos de frenéticos gestos e desenfreada religiosidade a despejar besteiras em nome de Deus, da família, dos filhos e do netinho que ainda nem nasceu. Votaram por isso e isso estribou o discurso de muitos.

Faz pena… Deprimente espetáculo circense a favor do golpe. Fantástico sabá de bruxos e bruxas numa danação triunfalista, obsessiva, movido pela traição e contra os princípios mais comezinhos da vida democrática.

E o pior! As ameaçadoras garras da grosseria, da intolerância e estupidez ganharam corpo nos elogios à tortura, a violência e aos torturadores, proclamando-se aos berros histéricos o nome dessa figura malévola do coronel Ustra. Aquele que violou os direitos fundamentais da pessoa humana e um dos responsáveis pelo martírio de milhares de família que sofreram em suas mãos imundas, sujas com o sangue vermelho dos que tombaram nos porões e oitões do DOI- CODI.

Alusão ultrajante a esse facínora no âmbito daquela Assembléia fere os princípios de respeito ao povo brasileiro. Rasga e instala na carcomida estrutura de um organismo podre em decadência, causa seriíssimos danos a honradez de quem a compõe e deslustra de vez a esmaecida face desta Casa Legislativa.

O extraordinário disso tudo é que agora conhecemos em sua inteireza a alma da Câmara Federal. A alma desta corja de declarados malfeitores golpistas, bucaneiros de ocasião sem compromisso com o país. Meros acessórios, mamulengos frouxos e covardes a serviço de nenhuma causa, comensais da mesa do "bruxo mor", Eduardo Cunha, acusado (entre os quatro cantos do mundo) de: bandido, gangster, achacador, ladrão e chantagista golpista.

Um biltre, digo eu.

Por fim ficam as lições. Junto-me sem desilusão e nem desespero, com o fervor dos meus sentimentos ao povo brasileiro no expressivo esforço de se alcançar os patamares do desenvolvimento e da sabedoria política que o nosso país tanto requer e carece. E, na esperança da participação popular como influência indiscutível sobre os acontecimentos futuros.

Para tanto e pra começar, algo deverá ocorrer nos rumos da política em nosso país. Grosso modo, ficou demonstrado desde a eleição de 2014 e nesses episódios mais recentes a fragilidade das relações políticas entre os Poderes da República e ganha relevo as desarticulações entre eles.

Assim como, o encolhimento da militância partidária, e a alienação e ignorância que grassam no seio da juventude e na massa estudantil das universidades inibem o compromisso ideológico de parcelas ponderáveis da população jovem disposta à luta.

Por outro lado, assiste-se o renascer dos movimentos sociais, assim penso eu. Ressurge com vigor e alegria a Frente Brasil Popular que naturalmente pontuará as ações futuras de solidariedade de classes e o dever patriótico, cívico que magnetizem o mundo político brasileiro e o impulsione no sentido do compromisso com a defesa da liberdade e da democracia.

Cumpre-nos, neste quadro, um esforço maior no sentido de materializar a unidade construída na luta pela democracia travada contra o golpe e estabelecer propósitos que superem as diferenças ideológicas, as estratégias de poder localizadas ou individualizadas com o objetivo de consolidar os processos democráticos e enfrentar os avanços do conservadorismo medíocre e tacanho que se espalha e atinge as nossas portas.

*Campelo Costa é Nordestino, profissão Esperança

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.