Déjà vu golpista 

A estarrecedora sessão de 17 de abril da Câmara dos Deputados trouxe à tona um Brasil desconhecido por muitos. No entanto, agora, nenhum brasileiro pode ignorar a baixa qualidade da atual legislatura, apontada pelo Departamento Intersindical de Apoio Parlamentar como a mais conservadora desde a constituição de 1988.
 

PCdoB mobiliza militância para evento com Dilma amanhã no Recife - Divulgação

José Bertotti (*)

O poder legislativo extrapolou suas atribuições constitucionais ao admitir processo de impeachment sem crime de responsabilidade. Na falta de embasamento jurídico, aqueles que conspiram para destituir a presidente usam como argumento a “necessidade de controlar a inflação e recolocar o País nos trilhos”, justificativa idêntica à usada pelos militares de 1964 para perpetrarem um golpe, com conivência do Congresso Nacional da época, que depôs o presidente João Goulart. Daí surge o sentimento de déjà vu.

A situação toma ares de “Teatro do Absurdo”, nas palavras de Wagner Moura, quando acontece sob o comando de Eduardo Cunha. Este, sim, réu em diversos processos. Caso aprovado o impeachment, um colégio eleitoral ilegítimo levará à presidência a chapa Michel Temer/Eduardo Cunha, ambos do PMDB, em substituição à vontade popular expressa nas eleições de 2014.

O fato é que uma quebra das regras democráticas estabelecidas para solucionar os novos e os velhos problemas da nossa sociedade nos levará a um caminho já conhecido. Nesse momento, nossa jovem democracia está ameaçada. O que está em jogo não é somente o mandato da presidente Dilma, por isso amplos setores de nossa sociedade levantam-se para defendê-la. Espero que Karl Marx esteja certo quando diz que a história se repete primeiro como tragédia e pela segunda vez como farsa, porque se 1964 foi uma farsa, não quero ver a tragédia que nos espera.

Publicado no Jornal do Commercio/Opinião – edição de 28/04/2016.

(*) José Bertotti é presidente do PCdoB/Recife