Boaventura Santos: "Impeachment é claramente um golpe parlamentar"
Em entrevista ao jornal La Diária, do Uruguai, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos, professor português e diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, afirma que o "impeachment é claramente um ato que configura golpe parlamentar", porque não há fundamento jurídico que justifique o afastamento.
Publicado 11/05/2016 17:13

"No momento em que falamos, não sabemos o que vai ocorrer, mas de qualquer maneira penso que haverá um período bastante turbulento, politicamente. O impeachment é claramente um ato que configura golpe parlamentar, sobretudo porque não se demonstrou a suposta responsabilidade em crimes que o justificassem", disse ele, reforçando que o golpe tem razões políticas que tem efeito "grave para a democracia no Brasil e para o continente".
Para ele, se o impeachment se consumar, haverá consequências para toda a América Latina. "Obviamente, a polarização social no Brasil é muito alta, neste momento, e penso que nem os movimentos sociais, nem os cidadãos, nem as classes populares aceitarão esta ato, sobretudo porque dele resultaria um governo liderado por um partido, o PMDB, conhecido por ser um dos mais corruptos da história do Brasil", salientou o sociólogo.
E completa: "E, por outro lado, porque provavelmente o fenômeno mais importante por trás de tudo isso é a Operação Lava Jato, ou seja, a grande investigação contra a corrupção, que talvez seja paralisada, já que, segundo todos os indícios que temos, há muita gente envolvida na corrupção, que pertence precisamente a este partido que estará no poder".
Boaventura frisa que a legitimidade de um eventual governo do vice-presidente Michel Temer, que comanda o gabinete dos sem voto, está comprometida.
"Tudo isso cria um problema de legitimidade democrática difícil de manejar e cujas consequências são difíceis de prever. Mas o impacto do que irá ocorrer será muito importante para toda a região. Se o impeachment passar, será uma afirmação de que as democracias que existem no continente são facilmente manipuláveis; e de que se alguém ganha as eleições e obtém, portanto, o direito de governar, mas importantes forças antidemocráticas decidem que não deve governar, há maneiras de obter tal resultado, por uma conjunção de meios. Entre eles, um Poder Judiciário conservador, a serviço destas forças antidemocráticas", pontuou.