Jesualdo Farias: Avante, guerreira

Escrevo este artigo no Dia das Mães. Mães negras, brancas, indígenas, analfabetas, doutoras, trabalhadoras, desempregadas, pobres e ricas. Mulheres que lutam contra a violência alimentada por uma parcela machista e alienada da sociedade. É inimaginável o que acontece à luz do dia e no escuro covarde das redes sociais. Apologia ao estupro e a todas as formas de violência e, não raramente impunes, seus autores desfilam nos nobres salões e até escondem-se na impunidade de um mandato no baixo ou no alto parlamento.

Quantas mulheres morreram quando lutavam? Quantas foram escravizadas, apedrejadas, vendidas e humilhadas? Uma delas, Joana d’Arc, foi queimada viva em 30 de maio de 1431, na França, com apenas 19 anos de idade. Camponesa e analfabeta, foi uma chefe militar da Guerra dos Cem Anos, heroína do seu povo, foi canonizada em 1920, quase cinco séculos depois da sua morte. Como tantas mulheres, seguiu suas convicções e contrariando os mais terríveis instintos conservadores, entregou a sua juventude à luta para defender o seu povo.

Assim, ainda hoje, vivem muitas mulheres em todo o mundo. Neste contexto, não posso deixar de mencionar a forma violenta e preconceituosa com que tem sido tratada a primeira mulher presidente do Brasil. Mãe e avó, uma mulher honesta e tenaz, que, na sua juventude, também enfrentou interesses poderosos e sofreu na prisão a tortura daqueles que não conseguiam calar quem ousou lutar pela liberdade. Não foram desprezíveis os cartazes e falas, de cunho fascista, em manifestações recentes, clamando pela sua morte.

É possível que, no dia de hoje, ela esteja apeada da Presidência da República por um golpe parlamentar. Iludem-se aqueles que pensam que a sra. Dilma Rousseff descerá a rampa do Planalto de cabeça baixa. Não. Ela descerá com a mesma convicção com que entrou em 1970, para ser torturada, no porão da ditadura e de lá saiu mais forte e valente para, em 2011, subir a rampa do Palácio do Planalto e ser reeleita em 2014 com mais de 50 milhões de votos.

*Jesualdo Farias é Professor titular da UFC e secretário da Educação Superior do Ministério da Educação (MEC)