José Serra e o Brasil que só fala grosso na América Latina

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, agora com José Serra (PSDB) no comando, emitiu uma nota na sexta-feira (13) – primeiro dia sob nova direção – onde “repudia as declarações do Secretário-Geral da Unasul [União das Nações Sul-Americanas], Ernesto Samper, sobre a conjuntura política no Brasil”.

Por Mariana Serafini

José Serra - AE

A nota diz ainda que os “argumentos apresentados, além de errôneos, deixam transparecer juízos de valor infundados e preconceituosos contra o Estado de Direito e seus poderes constituídos”.

Em coletiva de imprensa, o secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper, havia afirmado que o organismo não emitiria comentários sobre o governo interino porque reconhece Dilma Rousseff como “presidenta constitucional” do Brasil até que seja feito um julgamento “dentro das normas do Estado de Direito”. E ressaltou, na mesma fala, que cabe aos países membros se pronunciarem ou não sobre o governo instalado no país depois do golpe.

Samper não falou nada além disso. Em nenhum momento disse “não reconhecer” o governo atual. Pelo contrário, prefere esperar para tomar uma posição pois trata-se de um governo provisório cuja vigência terá 180 dias, até que a presidenta afastada seja julgada.

Mesmo sem haver ofensas ao governo ilegítimo de Michel Temer, José Serra, que ocupa agora o ministério das Relações Exteriores achou por bem “repudiar” a Unasul.

Não é segredo o posicionamento do senador (que não terminou seu terceiro mandato) em defesa de grupos empresariais norte-americanos ligados ao mercado do petróleo. Desta forma, instala-se novamente no Brasil o governo que fala grosso com a Bolívia e ajoelha para Washington. Exatamente o contrário do citado por Chico Buarque em entrevista em 2010, que atribuía o respeito internacional ao Brasil justamente por tratar a todos “de igual para igual”.