Arruda Bastos: Tem um "barriga branca" no Planalto

Por *Arruda Bastos

Eduardo Cunha e Temer - Foto: Antônio Cruz/ABr

“Barriga branca” é uma famosa expressão popular usada pelos cearenses que traduz um homem que é mandado por uma mulher. Eu não acho nada de mais ser mandado por elas, que são excepcionais, até porque posso me considerar, em alguns momentos, do time, uma vez que a minha querida esposa, Marcilia, em muitas oportunidades manda no meu querer.

Agora, ser mandado por um ser desprezível como o afastado presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, aí já é demais. Os últimos acontecimentos oriundos do Palácio do Planalto e do presidente usurpador Temer demonstram que ele está comendo pela mão do famigerado indivíduo. Cunha ainda é quem dá as cartas e joga de mão na república dos golpistas, mandando e desmandando nas nomeações e até mesmo nas orientações políticas e administrativas. Mesmo afastado, Cunha ainda mantém grande influência no Planalto e na Câmara.

O mais recente "sabe quem manda aqui?" foi observado no lance de Cunha ter indicado para a liderança do governo na Câmara o deputado ficha suja André Moura (PSC-SE), um dos principais defensores dele no Conselho de Ética e detentor de uma ficha corrida de fazer inveja ao Fernandinho Beira Mar. As ligações de Cunha com Temer podem ser vistas ainda no primeiro escalão, no segundo e em vários outros postos próximos do núcleo central do governo.

No primeiro escalão do Planalto, a articulação de Cunha foi eficaz ao emplacar Alexandre de Moraes no Ministério da Justiça. Ele foi seu advogado e conseguiu até a sua absolvição em um processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por uso de documento falso. As informações demonstram que Cunha bateu o martelo impondo sua nomeação.

O manda chuva Cunha também nomeou para o cargo de subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil o advogado Gustavo do Vale Rocha, que também advogou para ele. Aliás, como o nosso personagem tem muitos processos no histórico e em curso, talvez seja difícil encontrar um advogado que não tenha prestado seus serviços a ele. Já na Secretaria de Governo, pasta do Ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), Cunha indicou o chefe de gabinete, Carlos Henrique Sobral, que foi seu assessor na Presidência da Câmara. Cada vez mais fica claro que o titular interino do Planalto é um pau-mandado de Cunha.

Assim, vem-nos a pergunta que não quer calar: como um deputado afastado do seu mandato e sem seu posto de presidente da Câmara, com poucas possibilidades de voltar para o cargo, tem tamanha influência com um Presidente da República em exercício? A resposta não é tão difícil de imaginar, levando em conta o modus operandi de Cunha. Ele, provavelmente, está utilizando sua arma preferida que, como disse o ex-governador do Ceará, Cid Gomes, é o achaque, a chantagem e a intimidação. A pasta rosa e o dossiê de Cunha têm o mesmo poder atômico das bombas de Hiroshima e Nagasaki, o que pode levar à implosão de toda a articulação golpista.

O típico "barriga branca" cearense ama sua mulher e a chama de benzinho, a sogra de mãezinha, vive uma vida caseira e, normalmente, só dá palpite na novela das oito; é um verdadeiro panda. Com exceção do amor à esposa e à sogra, os outros atributos caem como uma luva no nosso interino Presidente. Ele não obedece por amor, mas sim por medo. Não tem, portanto, a menor condição de permanecer no cargo.

Ministros, políticos da base do governo, assessores próximos e até a imprensa golpista negam a influência de Cunha no Planalto e informam que é tudo coincidência e maledicência dos opositores. Justificam até dizendo que no Palácio do Planalto a última palavra é sempre a do usurpador Temer: “sim senhor!”.

*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-secretário da saúde do Estado do Ceará e um dos Coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.

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