Chanceler argentina constrange Serra sobre o Mercosul

Em recente visita à Argentina, na segunda (23), o ministro interino das Relações Exteriores, José Serra, enfrentou uma situação de constrangimento diante da sua obsessão em desconstruir o Mercosul.

Por Jô Moraes*

José Serra e Susana Malcorra - MRE

Ao apresentar a sua proposta de flexibilizar o bloco, teve que escutar da chanceler argentina, Susana Malcorra, palavras duras: “Não podemos ficar mudando de modelo de uma hora para outra. O mundo respeita a previsibilidade e a continuidade das políticas”, alertou a chanceler, segundo registro do jornal Folha de S. Paulo.

Mesmo integrante do governo Macri, que assume uma orientação liberal na sua política externa, Malcorra demostrou preocupação diante da possibilidade de que as mudanças propostas por Serra venham prejudicar as negociações já avançadas com a União Europeia para um tratado de livre comércio.

A troca de ofertas envolvendo o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia estava marcada para o mês de maio, antes da crise do impeachment, conforme anúncio realizado pela comissária de comércio da União Europeia, Cecilia Malmström, e pelo ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa, no mês passado, em Bruxelas, na Bélgica.

Embora a busca do acordo entre os dois blocos tenha começado em 2004 e apesar de uma interrupção de seis anos, as negociações foram retomadas a partir de 2010 e intensificados os esforços de sua construção no último ano.

Os entendimentos para a efetivação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia enfrentaram diferentes fases, fruto de alterações na situação interna de cada país. Passo significativo se deu quando da conclusão do trabalho técnico de preparação da oferta de acesso a mercados, na Cúpula de julho de 2014, em Caracas.

O envolvimento direto da presidenta Dilma Rousseff junto aos chefes de Estado da comunidade europeia, no último ano, impulsionou as iniciativas para a sua efetivação. O assunto tomou relevância na vinda da chanceler da Alemanha, Ângela Merkel, ao Brasil. Na oportunidade, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro, presente ao encontro no Palácio do Planalto, ressaltou o papel da Alemanha na efetivação do acordo.

O Brasil já vinha intensificando seus esforços através da ação do seu ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, juntamente com o trabalho das embaixadas brasileiras junto aos 28 estados membros da UE.

Para compreender a importância da assinatura desse acordo é só lembrar o intercâmbio comercial entre esses dois blocos que pode ser intensificado. Em 2015, as exportações brasileiras para a UE alcançaram a cifra de US$ 33,9 bilhões. Já as importações brasileiras da UE foram de US$ 36,6 bilhões. No mesmo ano, 7.109 empresas brasileiras realizaram exportações para a UE e 19.766 empresas brasileiras importaram produtos do bloco, conforme publicação do Portal Brasil, em 08/04/16.

É esse trabalho que o chanceler interino José Serra quer destruir com a sua “diplomacia de inventar a roda”, subserviente aos Estados Unidos.