Arruda Bastos: Por que Dilma deve voltar

Por *Arruda Bastos

Dilma bh - Eder Bronson/Barão de Itararé

Lendo o editorial do Jornal Estado de São Paulo do último dia 31/05, o qual trata do não retorno da presidente Dilma, cheguei à conclusão que, cada vez mais, a mídia golpista está desesperada e até já entronizou que o golpe que foi instalado no Brasil está por um cabelinho de sapo. No famigerado editorial, não se encontra nenhum motivo real ou legal para o não retorno de Dilma. Ele só trata da crise econômica, ao seu modo, como se o fato fosse determinante para o seu afastamento.

O desapego à nossa Constituição é típico de grande parte da nossa elite. Para estes, ela só deve ser respeitada quando os seus interesses são feridos e o que deve ser levado em conta são os ditames do capitalismo selvagem, lucros cada vez maiores, nem que seja em detrimento dos direitos dos trabalhadores e da grande maioria da nossa sociedade.

O ébrio editorial em nenhum momento faz menção à corrupção, à queda em 19 dias de dois ministros do Time fajuto do desgoverno Temer, aos áudios de Sérgio Machado, que expõem e envolvem toda a cúpula do governo em falcatruas e nas manobras para a aprovação do Impeachment, em troca de impunidade na Lava Jato e em outras operações. É o famoso “os fins justificam os meios”, tão criticado em outras ocasiões.

Dilma vai voltar por dois motivos fundamentais: primeiro, por não ter cometido crimes que justifiquem seu afastamento; e segundo, por ter sido alvo de uma farsa golpista, que dia a dia fica mais clara. Dois senadores já se manifestaram pela mudança de seus votos, Romário (PSB-RJ) e Acir Gurgacz (PDT-RO), quando do julgamento do processo no Senado. Nesse sentido, Dilma vai voltar também para dar continuidade ao seu projeto de Povo, com a abertura da nossa economia para os mais pobres, a ampliação dos programas sociais voltados para a maioria da nossa população e, ainda, a manutenção dos direitos trabalhistas e previdenciários.

Estamos vivendo um governo que terceirizou sua gestão: a área econômica para as grandes empresas, Fiesp e aos bancos, e a área política aos corruptos de ocasião, principalmente do PSDB e PMDB, como confirmam os áudios de Sérgio Machado e as delações dele e do filho.

Na área econômica, foi terceirizada a proposta de repassar, o mais rápido possível, como na Era Fernando Henrique, as nossa empresas públicas e riquezas, incluindo agora Petrobras e o Pré-Sal, ao capital nacional e internacional, de preferência a preço de banana, como foi denunciado em vários livros, principalmente no intitulado “Privataria Tucana” de Amaury Ribeiro Júnior. Reduzir e acabar com algumas conquistas históricas dos trabalhadores e modificar a nossa previdência são outras medidas que serão adotadas, medidas estas que só beneficiam ao grande capital. Nada se falou em tributar as grandes fortunas, heranças ou em instituir novas contribuições ou tributos, mesmo que temporários, para aumentar a arrecadação. O trabalhador que pague o pato.

Na área política, que também foi terceirizada para a elite corrupta, a função principal é assegurar a impunidade na Lava Jato e em outras operações em andamento, como já se suspeitava e como se denota das gravações e delações da família Machado. A prova do fato foi a composição do Time fajuto do presidente em exercício, Temer.

Aí vem a pergunta: e o terceirizador, o usurpador Temer, o que anda fazendo? A resposta é fácil. Como toda empresa que terceiriza, está ganhando de todos os lados. Dos empresários, a gratidão eterna e só Deus sabe o que mais; dos políticos, a certeza de cumplicidade no seu governo e de apoio às medidas que garantirão os ganhos das grandes empresas nacionais e internacionais. Além disso, sobra ainda o status de ser Presidente do Brasil.

O povo já está tomando consciência da quinada e o retrocesso nas nossas instituições. A prova é o aumento da popularidade da nossa presidente Dilma. Agora, cabe aos políticos, partidos progressistas, sindicatos, associações e sociedade organizada continuar atenta às manobras dos outros dois setores que apoiam o golpe no Brasil, a mídia golpista e parte do Judiciário. Volta, Dilma, que queremos nosso país de volta.


*Arruda Bastos é médico, professor universitário, ex-Secretário da Saúde do Estado do Ceará e um dos Coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.

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