Porta-voz do golpe, Estadão prega perseguição a movimentos 

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foi acusado de violento em editorial do jornal O Estadão nesta segunda-feira (6). O veículo, que é porta-voz do governo golpista de Temer, age para criminalizar os movimentos sociais, definidos  no referido texto como “inimigos da democracia”. A campanha da mídia tradicional tornou-se uma licença para reprimir. E a tática da violência, prática comum em São Paulo, se fortalece pelo Brasil.

Por Railídia Carvalho

Repressão ao MTST - Mídia Ninja
A licença para reprimir se instalou com a posse do presidente interino Michel Temer (PMDB), apoiado pelo Estadão e outros grupos que dispõem do monopólio da comunicação, veículos usados para legitimar o golpe e tornar legais as perseguições.
 
Coordenador do MTST, Josué Rocha, rebateu as acusações do Estadão ao movimento que, segundo o editorial, tem sido favorecido pelo o que o Estadão chamou de “boquinha”. A referência é à modalidade entidades, que faz parte do programa Minha Casa, Minha Vida.
Manipulação

“As acusações não tem fundamento e demonstram o completo desconhecimento do jornal sobre o funcionamento do programa. Além da seleção para as entidades ser muito rígido, o repasse das verbas não vai para as entidades e sim para as empresas responsáveis por executar a obra. Quem gerencia os recursos é a Caixa Econômica, que é a operadora do programa”, esclareceu Josué.
 
Pelo programa, cooperativas habitacionais, associações e demais entidades sem fins lucrativos podem acessar o Minha Casa, Minha Vida –Entidades. A modalidade foi criada em 2009.

Criminalização

Para o dirigente,  o papel da mídia tem sido justificar a perseguição policial às ações do MTST. “As duas grandes manifestações que fizemos em São Paulo foram duramente reprimidas e de maneira desproporcional. Querem legitimar qualquer ação de criminalização contra o movimento. Qualquer movimento que ouse encarar esse processo que culminou com a entrada do Temer é visto como inimigo da mídia, que é base desse novo governo”, ressaltou.

Golpe jurídico e midiático
 
O MST de Goiás está neste momento obrigada a “prestar contas à justiça”, como quer o Estadão. Enquadrado como organização criminosa pelo judiciário daquele estado, a entidade recorre contra a prisão de dois integrantes, um deles preso na semana passada. 
Gilvan Rodrigues, da coordenação estadual do MST, disse que o termo “violento”, usado pelo Estadão para se referir ao MTST, deveria ser usado para aqueles que descumprem a constituição.  
“O que a gente acredita que é violento, que é inimigo da democracia e que é contra a lei é o ato de não se garantir a constituição nacional. O direito, o acesso à terra está lavrado na nossa constituição e não é respeitado”, ironizou o dirigente.
“A organização de movimento sociais, a luta e protestos sociais estão garantidos na nossa constituição. Então violentas são as forças que tentam impedir que a constituição seja cumprida”, complementou. Na opinião dele, a intensificação das perseguições em Goiás estão direcionadas aos movimentos que denunciam o golpe.

Retaliação de Temer

Além dos ataques que chegam através da imprensa golpista, o governo Temer começa a retaliar a participação da sociedade nos conselhos de participação social. A denúncia é feita por André Tokarski, secretário nacional de movimentos sociais do PCdoB. 

Segundo ele, profissionais que assessoram alguns destes conselhos, como de saúde e educação, foram exonerados por conta dos protestos recentes contra ministros de Temer, como o ocorrido em Fortaleza na semana passada.
“O que fica claro é que a repressão política usando forças policiais passa a ser a tática da direita, seja da imprensa ou do próprio governo lançando mão das exonerações. Esse tipo de editorial do Estadão é sinalização para o governo golpista aumentar o tom”, opinou André.
O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ronald Ferreira dos Santos, confirmou a exoneração de Kátia Souto, que assessorava o CNS. 
Caça às bruxas

“Isso é um absurdo. Nunca em duas décadas houve intervenção desse tipo. É a prática da caça às bruxas. É interferência na autonomia do conselho”, declarou Ronald. Ele confirmou que a exoneração de Kátia foi motivada pelo fato de o governo entender que ela coordenou os atos em Fortaleza. “E não é real que a Kátia tenha coordenado essas iniciativas”, completou Ronaldo. O conselho vai buscar reverter a decisão.