MST: Judiciário e latifúndio goiano querem movimento na ilegalidade

Na terça-feira (7) o agricultor e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)Luiz Batista Borges teve negado o julgamento do habeas corpus pelo Tribunal de Justiça de Goiás. Preso desde 14 de abril, Luiz é acusado de roubo, cárcere privado e de integrar organização criminosa, como foi enquadrado o MST pelo judiciário local. Gilvan Rodrigues, coordenador estadual, declara que as acusações são infundadas e que o judiciário julga com um viés político. 

Por Railídia Carvalho

Comitiva para aapoiar sem terras em Goiás

São quatro militantes do MST na mira do judiciário goiano, baseado em provas que, segundo Gilvan, não existem. Além de Luiz, o geógrafo e militante do movimento Valdir Misnerovicz também aguarda julgamento preso. Os militantes Diessyca Santana e Natalino de Jesus continuam desaparecidos mas tem mandados de prisão contra eles.

“Acreditamos que tudo o que está acontecendo é mais político do que jurídico. Fica difícil considerar esse caso juridicamente já que as posições do judiciário são muito conservadoras e só veem o lado da acusação”, disse Gilvan.
Segundo o dirigente, Luiz é acusado do roubo de uma caminhonete, veículo que está em poder do denunciante.  “Acusam também de cárcere privado alegando que o crime aconteceu quando o movimento paralisou uma estrada. Na verdade, a pessoa foi impedida de transitar na estrada e não ficou sob controle de ninguém”, esclareceu.
Colocar a reforma agrária na ilegalidade
Goiás é um dos estados brasileiros com a maior concentração de latifúndios. Em nota divulgada pelo MST no início deste mês, a ação do judiciário vai ao encontro de uma articulação contra os sem terras que envolve o governo tucano de Goiás e parlamentares ruralistas, entre eles, os senadores Eunício de Oliveira (PMDB/CE) e Ronaldo Caiado (DEM/GO).
 
De acordo com o coordenador estadual do MST em Goiás, Luiz Zarref, a decisão dos desembargadores é a prova da ofensiva conservadora para criminalizar os movimentos populares: “O posicionamento de Goiás confirma a ação articulada entre o latifúndio local e os poderes executivo, legislativo e judiciário em criminalizar o Movimento”, destaca Zarref.
Denúncia
Enquanto aguarda o julgamento do mérito do habeas corpus de Valdir, o MST atua denunciando no Brasil e no exterior a perseguição contra o movimento em Goiás. Entre os apoiadores está o arcebispo de Goiânia, Washington Cruz, que escreveu uma carta atestando a boa índole de Valdir Misnerovicz.

“Na carta, o arcebispo afirma que o Valdir sempre atuou na mediação dos conflitos agrários no intuito de resolver e superá-los”, contou Gilvan.
 

Trecho da carta acrescenta que Valdir “sempre demonstrou ser um homem de bom senso, calmo e com clareza de posições e atitudes em defesa da vida, sobretudo da vida dos pobres”. O arcebispo, que é amigo do geógrafo, ainda reafirma “por Valdir coloco a minha mão no fogo”.