Indígenas são alvejados por fazendeiros no MS: uma morte, 8 feridos

Cerca de 100 fazendeiros e pistoleiros do Mato Grosso do Sul, insatisfeitos com as propriedades ocupadas por índios que pedem a demarcação de suas terras na região, foram até o local em que o grupo acampava na noite desta terça-feira (14) e chegaram atirando. Houve confronto. Um índio morreu e oito ficaram feridos, entre eles, um criança de 12 anos que levou um tiro no abdômen, passou por cirurgia e está internada em um hospital da região.

Conflito entre indígenas do MS e fazendeiros da região

O índio morto tinha apenas 26 anos e era agente de saúde indígena. Em nota, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) lamentou a morte do rapaz. "O jovem agente foi morto covardemente, por homens armados que atiraram em cerca de mil indígenas, incluindo quatro agentes de saúde indígena, que estavam reunidos no território próximo a aldeia, quando foram surpreendidos por homens armados, em aproximadamente 60 veículos (caminhonetes). Que Deus proteja e conforte todos os povos indígenas e familiares neste momento de dor", afirmou o secretário especial de saúde indígena do Ministério da Saúde, Rodrigo Rodrigues.

A Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que a área está na Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá e que está em estudo para regularização fundiária.

Situação crítica

O prefeito do município Mário Valério (PR) disse que quatro dos feridos foram transferidos para o hospital de Dourados por conta da gravidade dos ferimentos e há informações de mais feridos na aldeia, mas os policiais e bombeiros não conseguem entrar no local.

"A situação é crítica, estamos reunidos com Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Departamento de Operações de Fronteira e prefeitura está dando assistência na cidade, mobilizando viaturas e médicos para socorrer e transportar os feridos", afirmou.

Jornais locais informam que no início da noite desta terça-feira (14), a Polícia Federal negociava com líderes dos índios a possibilidade de tentar reaver as armas e coletes tomados durante um conflito. Mas não houve entendimento.

Segundo informação do jornal Campo Grande News, após o massacre, nesta manhã de quarta-feira (15), lavouras de cana próximas ao local do conflito estão em chamas e o clima é tenso. A estrada está bloqueada em três pontos. 

A tensão deve piorar. À imprensa de Campo Grande, o cacique da aldeira, Lorivaldo Nantes, informou que os indígenas esperam que a Polícia Federal resolva o conflito, mas não descarta novos confrontos, já que, segundo ele, 7 mil indígenas se organizam para manifestar contra a morte do agente de saúde. "Vamos enterrar ele na fazenda onde foi morto", disse em entrevista.

Outra morte

Em setembro de 2015, outro jovem índio guarani-kaiowá Semião Vilhalva, de 24 anos, do tekohá (território) Ñanderu Marangatu, no município de Antônio João, em Mato Grosso do Sul, foi assassinado por pistoleiros da região, o crime foi denunciado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). O crime ainda não foi julgado.

Vários manifestos foram publicados em pesar pela morte de Claudione Rodrigues Souza. Advogados, professores de Direito, juristas e cidadãos de Mato Grosso do Sul e do Brasil em repúdio aos ataques genocidas aos indígenas criaram uma petição virtual.

Abaixo a nota da Funai e da Sesai sobre o caso:

"A Funai vem a público lamentar a morte do agente de saúde indígena Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, de 26 anos, e a situação dos cinco indígenas adultos e de uma criança, todos feridos em estado grave em decorrência de ataque sofrido na Terra Indígena Dourados Amambaipeguá I.

A instituição manifesta sua solidariedade ao povo indígena Guarani Kaiowá e o compromisso de atuar na mobilização das autoridades de segurança objetivando a apuração de responsabilidades pelo óbito e pela lesão aos indígenas que se encontram feridos.

A instituição encontra-se, nesse momento, dialogando com o Ministério da Justiça, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal para uma intervenção imediata na contenção do conflito na região.

Os Guarani Kaiowá lutam há décadas pela regularização fundiária de seus territórios de ocupação tradicional, e a Funai condena toda e qualquer reação desproporcional embasada em atos de força e de violência contra o povo indígena.

Como órgão indigenista oficial do Estado brasileiro, acredita no diálogo, no respeito mútuo e na construção de um pacto governamental e social amplo para solucionar os problemas enfrentados por povos indígenas e produtores rurais no Cone Sul do estado do Mato Grosso do Sul.

Nesse sentido, vem trabalhando com o objetivo de garantir os direitos do povo Guarani Kaiowá e levá-los a superar as situações de conflito, de insegurança e de vulnerabilidade social que vivenciam no atual contexto de confinamento territorial e de permanente restrição de direitos aos seus modos de vida."

Nota da Sesai:

"A Secretaria Especial de Saúde Indígena do ministério da Saúde (Sesai/MS) manifesta pesar aos familiares do agente de saúde indígena, Cloudione Rodrigues Souza, 26 anos, da etnia guarani-kaiowá, falecido nesta terça-feira (14/6), em decorrência de conflitos étnicos na região de Caarapó, em Mato Grosso do Sul.

O jovem agente foi morto covardemente, por homens armados que atiraram em cerca de mil indígenas, incluindo quatro agentes de saúde indígena, que estavam reunidos no território próximo a aldeia Te' Ýikuê, quando foram surpreendidos por homens armados, em aproximadamente 60 veículos (camionetes).

Que Deus proteja e conforte todos os povos indígenas e familiares neste momento de dor.
Rodrigo Rodrigues

Secretário Especial de Saúde Indígena
Ministério da Saúde"