Se fosse por competência, Parente estaria descartado

 Se fosse por competência, Pedro Parente estaria descartado: fez parte da equipe orçamentária de Collor e era ministro de Minas e Energia na época do apagão.

Por Najar Tubino

Pedro Parente

Pedro Pullen Parente, 63 anos, engenheiro civil, três vezes ministro de FHC – em 2001 na pasta de Minas e Energia, quando o Brasil apagou-, ex-vice-presidente da RBS, grupo gaúcho de mídia afiliada da Globo –em 2003, logo depois de deixar o governo-, presidente da Bunge Brasil, uma das maiores corporações do agronegócio do mundo, com sede nos Estados Unidos no período 2010-2014; atual presidente do Conselho de Administração da BM&FBovespa, além de participar dos conselhos do Grupo ABC, da SBR-Global e do Arlon Latin America Private Equity Fund. Em conjunto com a esposa, Lucia Hauptman criou a Prada Assessoria e administra a fortuna de 20 famílias – com patrimônio acima de R$20 milhões. Na Petrobras tem como desafio: acelerar o plano de vendas de US$15,5 bilhões em ativos e reduzir custos. Também é “fellow” da Universidade George Washington – Centro de Estudos Latino-Americanos, de Washington DC – é um dos membros.

Acusado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) de causar prejuízo a Petrobras de mais de um bilhão de dólares em função de contratos assinados com o setor privado para construção de usinas termoelétrica. Detalhe: se comprometia a remunerar os investidores mesmo que as empresas não dessem lucro. Responde a ações de improbidade administrativas nas 20 e 21 varas federais de Brasília, por conta da ajuda que o governo FHC deu para os bancos Econômico e Bamerindus. É conhecido no mercado como um gestor de crises e reestruturação de empresas. Outro detalhe: no início de março de 2016 ele assumiu nova cadeira no Conselho de Administração da RBS. E a diretoria da BM&FBovespa já avisou que ele continuará no comando da Bolsa. Segundo Parente “não existe conflito intrínseco de interesse”. A Petrobras é a maior referência da bolsa brasileira.

Se o requisito for competência Parente está descartado

Mas nada disso adianta na era do gestor de plantão, também conhecido como mordomo de filme de terror. Ele já recebeu os relatórios com os números da empresa. O Conselho de Administração da Petrobras realizou uma reunião de emergência no dia 23 de maio e pretende analisar o currículo do candidato ainda esta semana. A Petrobras em carta enviada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) informou aos membros do Conselho de Administração que é preciso uma avaliação dos requisitos para que o candidato assuma a presidência, conforme o novo estatuto social da companhia.

Se o requisito for competência Pedro Pullen Parente tem que ser descartado por absoluta incompetência. Uma coisa é o sujeito ser executivo político e usar do poder para exercer cargos, mesmo em empresas. Vejamos o caso da Bunge Brasil, onde em 2010, com a benção dos jornalistas de economia- um bando de puxa-sacos – , Parente assumiria para promover uma das maiores reestruturações da multinacional, que é do século XIX. O grande investimento: usinas de açúcar e álcool. Ou como dizia Parente na época “o agronegócio estendido”. No final de 2014, o site especializado Nova Cana noticiava os resultados da corporação na área de açúcar e bioenergia:

A Bunge teve um prejuízo operacional de US$142 milhões nos últimos trimestres de 2014, encerrado no dia 31 de dezembro. O resultado é três vezes pior que as perdas de US$43 milhões reportadas no mesmo período do ano anterior. No acumulado do ano o EBIT – lucro antes de juros e impostos – no segmento de açúcar e bioenergia foi de US$156 milhões. Somado ao ano fiscal de 2013 o prejuízo operacional acumulado é de US$216 milhões. A corporação continua ganhando dinheiro com a venda de soja e milho, mesmo tendo oito usinas de açúcar e álcool, por sinal, um setor quebrado no Brasil.

PRADA aplica em dólar, ativos internacionais e crédito privado

Quando estava na RBS o grupo gaúcho vendeu 12,6% das ações para a Gávea Investimentos, do seu ex-colega de governo FHC, Armínio Fraga. A RBS nos últimos tempos ficou conhecida por não pagar impostos e estar incluída na Operação Zelotes, com a cobertura do ministro do TCU, Augusto Nardes. E, recentemente vendeu a fatia que tinha nos negócios em Santa Catarina.

Pedro Parente disse que saiu da Bunge porque aos 60 anos queria mais qualidade de vida e pretendia ficar apenas com cadeira em cinco conselhos de empresas, o que é uma mentira deslavada, porque assumiu a Bolsa brasileira. Por sinal, a Prada Assessoria, não aplicou os recursos dos seus clientes milionários na BOVESPA em 2013 porque o índice caiu 15% e “a gente ganhou 15%”, como disse Lúcia Hauptman ao Infomoney:

“O que tem gerado os melhores resultados são as posições em dólar, em ativos internacionais e em crédito privado no Brasil”.

Agora será uma barbada, com o marido vendendo US$15,5 bilhões em ativos da Petrobras. É importante refletir também sobre as ligações entre os executivos tucanos, que depois voltaram ao mercado. Vamos acrescentar mais um personagem: Nizan Guanaes, marqueteiro, publicitário, responsável pela campanha de José Serra, em 2002. Era considerado um dos maiores conselheiros do golpista mor tucano, ex-sociólogo, Fernando Henrique.

Ação entre amigos tucanos

Nizan fez fortuna com as campanhas eleitorais, fundou a África, uma agência de publicidade e depois foi incorporando outras, até criar o Grupo ABC, onde Pedro Parente é conselheiro e Armínio Fraga comprou 20% para Gávea Investimentos, agora sobre controle do JP Morgan. E onde FHC também tem cadeira. Nizan vendeu o Grupo ABC em 2015 para o americano Omnicom. Por sinal, na Bunge, o também ex-ministro do Planejamento de FHC, Martus Tavares se tornou vice-presidente de assuntos corporativos.

É aquilo que chamamos de ação entre amigos, negócios de ex-colegas, claro que nada de corrupção, negociata, propina, coisa de batedor de carteira como Romero Jucá. É business. Enfim, o mordomo de filme de terror vai entregar o galinheiro para a raposa, que a esta altura, já deve ter passado a lista dos ativos à venda, para seu ex-colega Armínio Fraga, que repassou aos chefes do JP Morgan nas citys New York e Londres.

Em tempo: também faz parte do currículo de Pedro Pullen Parente a participação na elaboração e execução do orçamento do governo Collor, àquele do sequestro da poupança e da renúncia, porque seus assessores inventaram no Brasil a propina de 30% e isso a FIESP não concordou.