Ministro interino da Saúde é recebido com protestos em SC

Durante sua visita a Santa Catarina, nesta segunda-feira (27), o ministro interino da Saúde Ricardo Barros foi recebido, em frente ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, com protestos de Farmacêuticos e de Servidores da Saúde e de Enfermagem. Enquanto o ministro conhecia a Unidade de Terapia intensiva do Hospital, do lado de fora cerca de 100 pessoas protestavam.

 

Defesa do SUS

Os farmacêuticos criticaram uma declaração de Barros feita na ultima sexta-feira (24). Durante viagem a Ponta Grossa (PR), o ministro, fazendo referência à prorrogação do Programa Mais Médicos, declarou que “é melhor ter um médico cubano do que um farmacêutico ou uma benzedeira para atender à população”.

A declaração foi recebida com indignação pelos farmacêuticos. Desde então, a revolta está fervilhando nas redes sociais e o ministro até ensaiou uma retratação, em seu perfil no Facebook, alegando que sua fala foi divulgada de forma dexcontextualizada. Mas os farmacêuticos não ficaram satisfeitos. Querem um pedido de desculpas formal.

“De uma vez só, o ministro desrespeitou os farmacêuticos e demonstrou uma visão equivocada e retrógrada, que contraria o que é preconizado pelas organizações da saúde mais importantes em todo mundo, a assistência multidisciplinar como melhor modelo de prática em saúde pública. Não é por acaso que essa é uma das diretrizes do SUS”, comenta o presidente do CFF, Walter da Silva Jorge João, que, no ato, será representado pelo conselheiro federal de Farmácia pelo estado de Santa Catarina, Paulo Boff.

Para o presidente do CFF, o ministro equivoca-se gravemente ao alardear um modelo assistencial fragmentado, hierarquizado, centrado no médico. Somente para citar um exemplo, dados do Ministério da Saúde revelam que 82% dos pacientes que utilizam 5 ou mais medicamentos de uso contínuo o fazem de forma incorreta ou demonstram baixa adesão ao tratamento. Um em cada três pacientes abandona algum tratamento, 54% omitem doses, 33% usam medicamentos em horários errados, 21% adicionam doses não prescritas, 13% não iniciam algum tratamento prescrito, entre outras constatações. “O caso se torna mais grave se considerarmos que o Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de automedicação, seguramente pela influência de propaganda antiética, que induz ao consumo irresponsável de medicamentos”.

Não é a primeira vez que o ministro despeja sua oratória inconsequente e néscia diante da mídia. Recentemente, numa demonstração de total falta, inclusive, de habilidade política, ele disse que o tamanho do SUS deveria ser revisto. Foi obrigado a voltar a atrás. “É o que deveria fazer novamente agora, caso tenha realmente interesse de oferecer ao povo brasileiro, a resposta que ele espera do Sistema Único de Saúde (SUS)”, acrescenta o presidente do CFF.

Saúde

Os trabalhadores da Saúde denunciam problemas como a falta de funcionários e de leitos em funcionamento. De acordo com o sindicato, o centro cirúrgico do hospital Joana de Gusmão foi inaugurado há três anos, mas ainda não foi aberto. “40% do hospital não está em funcionamento por falta de funcionários. Um terço dos leitos não está funcionando desde a inauguração, há 30 anos. Este hospital já foi o primeiro da América Latina em tamanho e complexidade; hoje, caiu para a oitava posição”, disse o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde (SindSaúde), Wallace Cordeiro.

Defesa do SUS

O ministro que assumiu o cargo no governo provisório de Michel Temer (PMDB) vem sendo criticado pelos movimentos sociais por seus pronunciamentos contra os princípios do SUS. Ricardo Barros é um engenheiro e empresário paranaense, que não tem experiência em gestão em saúde e chegou a dizer que “o tamanho do SUS precisa ser revisto”. Ao fazer essa afirmação, Barros fere amplamente o princípio da universalidade e da integralidade. Significa dizer que os cidadãos terão que pagar por alguns serviços, além dos impostos que já pagam para custear a saúde.

Para o SindSaúde a manutenção e expansão do nosso Sistema Público de Saúde está em risco. Cerca de 75% da população brasileira utiliza exclusivamente os serviços do SUS e esse número tende a aumentar com a atual crise econômica, pois muitas famílias cancelam os planos de saúde para diminuir os gastos. E as dificuldades já conhecidas do SUS tendem a se aprofundar com o corte no orçamento da saúde de R$ 2,5 bilhões para esse ano.

"Além das privatizações e do sucateamento, precisamos lidar com um Ministro que não defende o SUS e não tem militância na saúde. Talvez por isso ele defenda rever o tamanho do SUS, quando o que deveria ser revisto é o tamanho do orçamento da Saúde – o Brasil investe apenas 4% de seu orçamento anual em saúde e em 2016 ainda sofreu um corte de R$ 2,5 bilhões, afirma a direção do Sindicato.

O ato foi organizado pelo Conselho Regional de Farmácia (CRF/SC) e pelas demais entidades farmacêuticas catarinenses, com o apoio do Conselho Federal de Farmácia (CFF). Também participaram representantes do Sindfar/SC, SindSaúde, do Conselho Regional de Enfermagem e do Fórum Catarinense contra Privatizações.

Fonte: Comunicação do CRF/SC SindSaúde e G1. Foto: João salgado