Presidente do Senado ignora a existência de povo, do povo brasileiro

Os conceitos políticos, como o de Democracia, são informados pela circunstância histórica da sua prática. Não são valores absolutos. A Democracia, na Grécia antiga, abrangia apenas os cidadãos com direitos políticos, sendo esses direitos negados às mulheres, aos estrangeiros, aos escravos. A sociedade democrática era apenas a dos cidadãos (homens, maiores, de linhagem), excluindo todos os outros – a ampla maioria.

Por Alexandre Weffort *

Renan Calheiros presidirá o Senado pelos próximos dois anos

No Brasil contemporâneo, assistimos a um golpe – uma espécie de golpe palaciano de tempos idos. Temer, como Brutus em relação a César, atraiçoa a relação política assumida com Dilma, ao aceitar ser eleito como “vice”. Afastando, mesmo que temporariamente a presidente eleita, Temer desenvolve uma política oposta à da chapa que lhe deu acesso ao poder.

Temer, o interino, apressa-se na sua política anti-popular. Esquecendo que o compromisso assumido não era apenas com Dilma, mas com os 54 milhões de brasileiros que a elegeram. E, nesse esquecimento, não está sozinho. Também Renan, atual presidente do Senado (atual, porque o processo judicial dele se aproxima, como aconteceu com Cunha, o ainda presidente afastado a Câmara), se esquece que a sociedade é composta por mais gente que a casta política que pulula no Congresso.

Assim reza uma notícia publicada no site do Senado:

“O presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou nesta quarta-feira (29) que a política econômica e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, têm apoio incondicional da sociedade. Segundo ele, a conversa na noite de terça-feira ( (28) entre Meirelles e senadores, na residência oficial do Senado, foi positiva. O Senado, de acordo com Renan, espera manter uma linha direta e desburocratizada com todos os setores do governo” .

Apoio incondicional é desejo totalitário, manifestação ideológica que se revela (tipo lapso freudiano) através da linguagem coloquial. Mas a questão de fundo está no conceito de sociedade defendido por Renan, que é restrita aos senadores e, mesmo nesses, apenas aos seus correligionários. Renan ignora as manifestações de repúdio de vários setores da sociedade, em atos públicos e nas pesquisas de opinião que revelam a crescente impopularidade do governo interino de Temer.

Para Renan, o povo não tem lugar na sociedade. É, assim, apologista de uma ideologia em que a política se resume aos jogos palacianos. Isso explica a recusa da proposta de eleições antecipadas. Porque, na verdade, o povo que Renan ignora vota e, cada vez mais, no exercício pleno da cidadania.

*Alexandre Weffort, residente em Portugal, é professor, mestre em Ciência das Religiões e doutorando em Comunicação e Cultura

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