Publicado 08/07/2016 16:30

Carrie Bradshaw, a protagonista, é colunista em um jornal em Manhattan. Vítima da moda, gasta fortunas com sapatos e roupas de grife. Samantha Jones, que trabalha como relações-públicas e promotora de eventos, é a liberada do grupo. Bela e sedutora, Samantha personaliza o culto ao corpo e o vale tudo pela eterna beleza e juventude. Charlotte York, a romântica, trabalha em uma galeria de arte e é a mais conservadora. Por fim, Miranda Hobbes é uma advogada bem-sucedida e Workaholic.
A série faz uma ótima caracterização da rapidez, diversidade e futilidade da vida da alta sociedade em Nova York. Conta, também, com apuradíssimo senso de moda, o que transformou as personagens em referências para as mulheres de sua geração. Tudo é glamour.
Vale ressaltar que o problema não é o mundo da moda, enfatizado no filme. A moda em si, à parte seus agentes dominantes, que muitas vezes a subvertem apoiando-se na criação de preconceitos, em contradições sociais e em desastres ambientais, é beleza, harmonia, arte e cultura. A moda contempla a dimensão subjetiva do ser humano. Ela define identidades, reforça personalidades, estabelece comunicação e traz uma inspiração à rebeldia.
Interessa aqui chamar a atenção para o fato de que, ao mesmo tempo em que o filme nos embala nesta fábula de cores e emancipação, ele impinge a essência da teoria do livre mercado. A série é uma vitrine do liberalismo em seu grau mais avançado. A liberdade da mulher se traduz em liberdade de mercado e em supremacia do capital. Perante o dinheiro todos somos iguais.
No universo deste filme não há o trabalhador comum nem o exercício da produção fabril, que sustenta o consumo apresentado. Os objetos surgem prontos como que se tivessem sido geridos em outro mundo. O terceiro ou quarto mundo, talvez.
O capital, que permite as ostensivas compras, procede do trabalho abstrato, radicalmente liberal. A flexibilidade, informalidade e autonomia fluem sem obstáculos.
Mas isto não pode ser um modelo universal. Onde o capitalismo não se desenvolveu plenamente a informalidade se traduz em precariedade. Sex and the City é um sonho liberal, que nos inspira, mas que não funciona como modelo de sociedade.
Sex and the City
EUA, 1998
Criadores: Darren Star, Karey Kirkpatrick
Elenco: Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis, Cynthia Nixon, Chris Noth, Jennifer Hudson, Candice Bergen